Sempre admirei a capacidade de síntese que certos autores demonstraram na elaboração de obras que, talvez por isso mesmo (ou a despeito disso), acabaram por se tornar sintomáticas de tudo que haviam escrito até então e de tudo que escreveram depois. Ninguém ignora a posição d'A Metamorfose, do Kafka, como espécie de introdução (ou resumo) ao resto da obra dele. O mesmo se dá com o Vidas Secas, do Graciliano Ramos, ou com o Heart of Darkness do Joseph Conrad.
Se é mesmo verdade que o bom escritor está sempre a escrever o mesmo livro, dá-nos bom exemplo disso o próprio Kafka. Chegam mesmo a dizer que seu O Castelo foi interrompido abruptamente porque, ora vejam, continuá-lo seria repeti-lo. Por mais falaciosa que seja a idéia, a impressão que se pretende passar é verdadeira: o livro de Kafka é sempre o mesmo, sendo apenas, a cada nova tentativa, abordado sob uma perspectiva ligeiramente diferente. Esse processo se aproxima mais de uma continuação que de uma repetição, apesar de me parecer impossível precisar até que ponto isso continua a ser verdade.
E, se a obra de determinados escritores se caracteriza realmente por uma interminável continuação, não admira que surjam essas sínteses, que sintetizam e sugerem ao mesmo tempo, frutos do que parece ser uma visão particularmente límpida de um objetivo na literatura, podendo essa "visão" representar um "começo", algo a ser mais extensamente desenvolvido (como para Conrad e Kafka), ou um "desfecho", o epitáfio de uma idéia que já parece ter sido devidamente explorada (como para Graciliano Ramos). É nesse sentido que se faz importante o respeito pelo essencial: tudo que não for sumamente necessário deve ser descartado; dilapida-se o texto até que este atinja a dimensão do poema, se é que me faço entender. O supérfluo, nesses casos especiais, longe de realçar o que quer que seja, tenderia apenas a deturpar o que me parece ser uma ode ao límpido e ao inteligível, ao que há de verdadeiramente puro na visão que o homem tem do mundo e de si mesmo.
Se é mesmo verdade que o bom escritor está sempre a escrever o mesmo livro, dá-nos bom exemplo disso o próprio Kafka. Chegam mesmo a dizer que seu O Castelo foi interrompido abruptamente porque, ora vejam, continuá-lo seria repeti-lo. Por mais falaciosa que seja a idéia, a impressão que se pretende passar é verdadeira: o livro de Kafka é sempre o mesmo, sendo apenas, a cada nova tentativa, abordado sob uma perspectiva ligeiramente diferente. Esse processo se aproxima mais de uma continuação que de uma repetição, apesar de me parecer impossível precisar até que ponto isso continua a ser verdade.
E, se a obra de determinados escritores se caracteriza realmente por uma interminável continuação, não admira que surjam essas sínteses, que sintetizam e sugerem ao mesmo tempo, frutos do que parece ser uma visão particularmente límpida de um objetivo na literatura, podendo essa "visão" representar um "começo", algo a ser mais extensamente desenvolvido (como para Conrad e Kafka), ou um "desfecho", o epitáfio de uma idéia que já parece ter sido devidamente explorada (como para Graciliano Ramos). É nesse sentido que se faz importante o respeito pelo essencial: tudo que não for sumamente necessário deve ser descartado; dilapida-se o texto até que este atinja a dimensão do poema, se é que me faço entender. O supérfluo, nesses casos especiais, longe de realçar o que quer que seja, tenderia apenas a deturpar o que me parece ser uma ode ao límpido e ao inteligível, ao que há de verdadeiramente puro na visão que o homem tem do mundo e de si mesmo.
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