Hoje basta que uma opinião corrobore a mais superficial das intuições para que seja reputada tão boa quanto qualquer outra. O esforço hercúleo que existe em levar uma determinada opinião do domínio incerto da intuição a um outro mais bem fundamentado é sistematicamente desprezado, tido inclusive como uma demonstração de arrogância.
Esse é um fato de fácil verificação. Basta começar uma frase com um De acordo com Fulano de Tal... para que nos interpelem com um Opa, por que não pensa por si próprio? ou um Que tal deixarmos as referências obscuras de lado? A verdade é que qualquer referência que transcenda o triunvirato Paulo Coelho - Tolkien - Dan Brown já é obscura. Na tentativa mesma de lançar alguma luz sobre a escuridão intelectual reinante, é-se acusado de obscurantista. Na tentativa mesma de forjar um raciocínio mais elaborado, através da meditação de autores e de obras que não necessariamente são lidas aos montes, é-se acusado de alguém que não sabe pensar. Ou, no mínimo, de alguém que não tem outra intenção além de, indiscriminadamente, esfregar nomes e títulos nas fuças dos outros. Não é à toa que já se fala em terrorismo onomástico.
A facilidade com que viramos as costas aos que vieram antes de nós é alarmante. É como se não merecessem confiança pelo simples fato de já não estarem vivos. O próprio Chesterton se surpreende com a prioridade que damos aos que, por acaso, ainda estão vivos: Tradition refuses to submit to the small and arrogant oligarchy of those who merely happen to be walking about. O Império do Achismo é precisamente isso: o solene desprezo que se dedica a qualquer tipo de tradição. Erra-se como já se errou há centenas de anos, e nem mesmo esse erro incita qualquer tipo de pesquisa; é a Elite do Aleatório, o Reino do Improviso, a condição humana em estado ad hoc permanente.
Na Veja dessa última semana, Stephen Kanitz vem nos dizer que
O povo latino-americano não se cansou do silêncio porque, muitas vezes, nem sequer o percebe.
Esse é um fato de fácil verificação. Basta começar uma frase com um De acordo com Fulano de Tal... para que nos interpelem com um Opa, por que não pensa por si próprio? ou um Que tal deixarmos as referências obscuras de lado? A verdade é que qualquer referência que transcenda o triunvirato Paulo Coelho - Tolkien - Dan Brown já é obscura. Na tentativa mesma de lançar alguma luz sobre a escuridão intelectual reinante, é-se acusado de obscurantista. Na tentativa mesma de forjar um raciocínio mais elaborado, através da meditação de autores e de obras que não necessariamente são lidas aos montes, é-se acusado de alguém que não sabe pensar. Ou, no mínimo, de alguém que não tem outra intenção além de, indiscriminadamente, esfregar nomes e títulos nas fuças dos outros. Não é à toa que já se fala em terrorismo onomástico.
A facilidade com que viramos as costas aos que vieram antes de nós é alarmante. É como se não merecessem confiança pelo simples fato de já não estarem vivos. O próprio Chesterton se surpreende com a prioridade que damos aos que, por acaso, ainda estão vivos: Tradition refuses to submit to the small and arrogant oligarchy of those who merely happen to be walking about. O Império do Achismo é precisamente isso: o solene desprezo que se dedica a qualquer tipo de tradição. Erra-se como já se errou há centenas de anos, e nem mesmo esse erro incita qualquer tipo de pesquisa; é a Elite do Aleatório, o Reino do Improviso, a condição humana em estado ad hoc permanente.
Na Veja dessa última semana, Stephen Kanitz vem nos dizer que
Tudo isso são sintomas de um perigoso antiintelectualismo que cresce na América Latina. A eleição de Hugo Chávez e Evo Morales mostra o mesmo fenômeno. O povo latino-americano se cansou do silêncio, da soberba e da incompetência de sua elite intelectual, que pouco cria e só copia teorias como Inflation Targeting, por exemplo.Ora vejam: o grande culpado por essa letargia intelectual é ninguém menos que o próprio intelectual. Isso não deixa de ser verdade, mas não é o aspecto mais importante: Kanitz não o deixa claro não sei por quê. Se perguntamos a Lula o que ele acha de James Joyce, ele não nos responderá com um Acho-o ilegível, ele e William Faulkner. O experimentalismo linguístico me parece grotesco, mas sim com um Quem é James Joyce? Se os intelectuais de atualmente não são tão competentes quanto seria desejável, não faz sentido esperar até que um surto de genialidade lhes arrebate por inteiro para que só então o indivíduo comum comece a se interessar por eles. Há também os mortos: os que, mesmo mortos, continuam vivos. Não por acaso.
O povo latino-americano não se cansou do silêncio porque, muitas vezes, nem sequer o percebe.
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