O que acontece com o segundo filme, Before Sunset, não é nem pretendia ser diferente do que acontece com o primeiro, Before Sunrise: temos a ilustração do que disse Woody Allen num desses últimos filmes dele: Conversation is what we have to go through to get to sex. Está claro que, nesse contexto, não me refiro aos conversation e sex usuais - o mesmo, naturalmente, não pode ser dito do personagem de Allen... mas sou eu quem está fazendo a citação; uso-a como melhor me aprouver! -, isto é, continua havendo muita conversação e pouco sexo até o final do filme.
A conversação por que foi necessário passar por cima para que o(s) filme(s) começasse(m) a interessar permeia os inevitáveis momentos iniciais, aqueles em que cada um tenta desesperadamente impressionar o outro; aqueles em que se tenta resumir em algumas poucas frases toda uma existência e que, a não ser que sejamos indivíduos sumamente extraordinários, devem ser evitados a todo custo. Até o silêncio é preferível.
Superada essa primeira fase, em que todo argumento dispõe de uma reminiscência convenientemente ilustrativa resgatada dos confins da mais longínqua infância, ou até mesmo de um sonho recém-sonhado que vem, sem mais delongas, ratificar sua validade, adentra-se na questão que realmente interessa: o porquê de um gostar tanto do outro. Uma vez quitados os dividendos pertencentes à trivialidade (nesse processo, somos levados a conhecer todo o engajamento da moça, de suas visitas ao México, à Índia etc. Em determinado momento fui tomado pelo temor de que o aquecimento global e o derretimento das calotas polares seria o próximo assunto em pauta), sobra espaço para o que há de realmente meritório no filme, sendo que um desses méritos é a ridicularização da mesma trivialidade (note-se que o gato da moça se chama Che).
Difícil é saber até que ponto seria legítimo extirpar esse intróito; se quiséssemos nos aproximar da realidade, legítimo seria, talvez, banalizá-lo ainda mais.
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