08 março, 2006

Nosso Camarada, 'Che'

Hoje me perguntaram por que não gosto de Che Guevara. Não lembro ter tocado no assunto ultimamente... resta-me acreditar que esse desgosto se encontra patente na minha expressão facial. Isso é bom. Evita maiores esclarecimentos.

Respondi, claro está, com um Por que gostaria? Contudo, entendo essa dificuldade que alguns têm de perceber o óbvio: devem ter assistido ao Diários de Motocicleta, filme que, ora bolas, traz o Gael García Bernal, novo e notável talento latino-americano, eleito unanimemente a esse posto por uma intelligentsia (quase sempre) feminina e (sempre) suspirante. Que coincidência! Mas vamos ao que interessa.

Tenho a leve impressão de que a leitura dos artigos Ten Shots at Che Guevara e The Killing Machine: Che Guevara, from Communist Firebrand to Capitalist Brand, ambos do Alvaro Vargas Llosa, bastaria para diminuir um pouco o fascínio pelo filme, ou até mesmo pelas paisagens bolivianas. Similarmente, eu não teria de responder a perguntas como a que me fizeram hoje. A minha idéia, teimosa que seja, é que o ambiente circundante já não é tão atraente quando se sabe que o jovem visionário e cool não passa de um facínora de marca maior. Já conheço o contra-argumento: trata-se de ficção; o filme vale pelo que é, não por aquilo que seu protagonista (na vida real, não necessariamente no filme) viria a se tornar depois. Mas acontece que a imagem que faço de Guevara, antes de se render às suas tendências mais cruéis, é aquela mesma mostrada no filme: a de um bobão metido a visionário.

Dito isso, espero sinceramente que os jovens que vierem depois de nós se derretam por ideais que não envolvam a motocicleta de um assassino. E que não façam questão de usar a camiseta de um assassino. É, antes de mais, uma demonstração insuspeita de burrice.