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01 maio, 2009

Muito canibalismo para um só dia

Acabo de ver o The Silence of the Lambs pela primeira vez. Confesso que há cenas bem perturbadoras, tão perturbadoras que podem até comprometer o churrasco do almoço de amanhã. Se eu por acaso vislumbrar Clarice Starling tentando salvar um cordeiro (ou tentando roubar minha carne), terei como consolo o fato de estar, bem, vendo Clarice Starling. Quando já me supunha livre de canibalismos, começa a tocar Cannibal's Hymn, cujo refrão acredito ter sido escrito para a Starling:
But if you're gonna dine with them cannibals
Sooner or later, darling, you're gonna get eaten
But I'm glad you've come around
here with your animals
And your heart that is bruised but bleating
And bleeding like a lamb

25 janeiro, 2009

Hold me closer, tiny dancer

Sábado passado pude ver Elton John executando ao vivo, aqui em São Paulo, algumas das músicas dele de que mais gosto (destaco Tiny Dancer, Good Bye Yellow Brick Road e Believe). O ponto alto do show -- pra mim e, acredito, pro casal que estava ao meu lado -- foi mesmo Tiny Dancer. Enquanto Elton John cantava o refrão -- hold me closer, tiny dancer... -- o casal obedecia e se abraçava ao som de uma balada que fez sucesso quando eles (e eu) não éramos nem nascidos. A voz, está claro, não é a mesma do começo dos anos 70: as notas mais altas ou desapareceram ou foram interrompidas antes que faltasse o fôlego. O mínimo que se pode dizer, porém, é que a melodia sobreviveu ao teste dos tempos. Veja a versão original da música aqui.

Outra grande satisfação foi não ter de ser empurrado de 5 em 5 segundos, apesar de estar razoavelmente perto do palco. Roqueiros mundo afora: aprendam com o exemplo de seus pais!

04 agosto, 2008

O Deus Idiota do Rock

Depois ainda dizem que eu implico com rockeiros. Deve ser porque não lêem entrevistas como a que Chris Martin, vocalista do Coldplay, deu à Veja semana passada. Dos muitos assuntos que pessoas potencialmente idiotas (categoria em que todos os rockeiros estão inseridos, ainda que, ou talvez por isso mesmo, tenham um PhD em Stanford) devem evitar, Martin deve ter abordado quase todos.

A primeira idiotice, tão comum que chega a ser aceitável, é dizer que não ouve os próprios discos porque a incessante busca pela perfeição etc. Pode até ser verdade, mas isso não se diz numa entrevista. Não 100 anos depois de já ter ficado claro que esse tipo de comentário não passa de pedantismo barato. A segunda é comentar as eleições americanas. Esse assunto deveria ser proibido entre 'artistas'. Mas Martin se supera: "Apóio Obama porque sou inteligente." É claro que, se tivesse dito que apóia McCain porque é inteligente, a resposta teria sido igualmente idiota. Depois dispara os juízos de sempre: Obama tem a mente mais aberta (seja isso o que for) etc. Quando apontam uma aparente contradição, a resposta também é a de sempre: parece, mas não é. Porque eu acho que sim.

Há mais. Leiam aqui.

26 março, 2008

Em Má Companhia

A autoridade, ou a falta dela, é um dos atalhos mentais mais úteis que conheço. É claro que ninguém deve defender a pena de morte apenas porque Tomás de Aquino a defendia ou porque Mano Brown a repudia, mas ambas as constatações, ainda que isoladas, deveriam nos fazer desconfiar que há algo de interessante nela. Tudo bem que desconfiança apenas não é suficiente pra mudar de idéia, mas não deixa de ser necessária.

Vejam a situação do rock: eu mesmo gosto de muito rock antigo, mas depois que você vai a um show e se vê cercado de trogloditas imundos e vestidos de preto não há como não concluir que há algo de errado com o rock. Seria muito implausível supor que esse séquito bizarro é obra do acaso, que não há nada na essência do rock que nos leve diretamente a tanta bizarrice. E não adianta pensar 'poxa, por que eles não agem, pensam e se vestem decentemente como eu?'. Você que é a exceção. Você está errado.

Fiquei com vontade de ler o The Closing of the American Mind, do Allan Bloom, por causa de seus comentários sobre o rock, apesar de eles ocuparem poucas páginas do livro. Mais uma vez parti do princípio da autoridade: se tanto rockeiro chiou é porque ele devia estar certo. Lido o livro, concluo que estava mesmo. Adianto desde já que sou analfabeto em teoria musical (ao que tudo indica Bloom também era) e que isso é irrelevante nas críticas que seguem.

Falei críticas mas na realidade são todas facetas de uma mesma: o rock como gratificação imediata. O rockeiro está tão acostumado à satisfação imediata do ímpeto musical que geralmente se perde ou tem preguiça de acompanhar 'peças' com mais de 10 minutos. Se o clímax demora a chegar, perguntam logo: 'a música não vai começar?'. Já falei aqui do sujeito que gritou 'Toca Raul!' no show do Jethro Tull enquanto eles executavam uma versão mais longa e 'clássica' (com violinos) de Aqualung.

Bloom observa que nunca antes a música esteve tão presente na vida do jovem; não é incomum ouvirmos declarações do tipo 'música é a minha vida etc.' E no entando essa música a que eles se referem é bem restrita, para não dizer rock/blues/jazz apenas. Isso fica fácil de verificar, pelo menos pra mim, quando vejo que conheço mais música clássica (e conheço pouca) do que alguns colegas que conhecem rudimentos de teoria musical e que sabem tocar até mais de um instrumento. A noção corrente é a de que música realmente boa é imediatamente reconhecível como tal; qualquer esforço envolvido significa falha na música, não nossa. Bloom reparou que geralmente era ele quem apresentava Mozart aos seus estudantes fascinados por música.

Qual a relação, então, entre o rock e seus seguidores sinistros? Platão dizia que a música anima os impulsos mais bárbaros no ser humano; sendo assim, parece natural que a música seja tão mais 'bárbara' quanto menos tentar disciplinar esses impulsos. Já o rock pode ser definido como a ausência mesma de qualquer disciplina: uivos e grunhidos são aceitáveis caso se coadunem com o ritmo. O costume não é musicar a letra, é letrificar, de maneira inteligível ou não, a música:
Rock music provides premature ecstasy and, in this respect, is like the drugs with which it is allied. It artificially induces the exaltation naturally attached to the completion of the greatest endeavors -- victory in a just war, consummated love, artistic creation, religious devotion and discovery of the truth. Without effort, without talent, without virtue, without exercise of the faculties, anyone and everyone is accorded the equal right to the enjoyment of their fruits.
Rockeiros mundo afora: estamos em má companhia. E isso pode significar mais do que parece.

07 fevereiro, 2008

Diálogos Razoáveis (1)

-- Entenda, é carnaval, precisamos de uma música mais animada. Ouço rock, jazz, blues e bossa nova, mas isso agora deixaria a galera morgada, as meninas sonolentas, os velhos dormindo. Carnaval pede agito e animação. Coloca Ivete aí.

-- Não.

14 agosto, 2007

A Oeste Daqui

Oeste para nós não significa muito mais que um dos pontos cardeais (ou a civilização ocidental, se o termo estiver em inglês). Para europeus e principalmente para americanos, a coisa é bem diferente. É curiosa a naturalidade com que eles associam idéias de aventura, recomeço e descoberta psicológica ao termo. Não à toa o brasileiro tende a receber com certa indiferença o formato western, enquanto Jorge Luis Borges dizia, se me não engano numa entrevista, que se quisermos encontrar qualquer resquício de heroísmo no cinema moderno devemos recorrer ao bom e velho western.

A noção de heroísmo tal como a entendiam os colonizadores da recém-fundada república norte-americana, ou, mais tarde, os forty-niners do gold rush na California (1849), já nos é pouco compreensível. Já é pouco compreensível até para os próprios americanos, apesar de a terminologia ter permanecido com os anos. Escrevendo pouco depois de 1831, Alexis de Tocqueville listou o ímpeto americano pelo novo e ainda intocado como um dos fatores que ajudariam a manter e a fazer crescer uma república democrática num território tão vasto. No primeiro volume do Democracy in America:
It would be difficult to depict the eagerness with which an American launches himself at this huge booty offered him by fortune. In order to pursue it, he fearlessly braves the Indian arrow and the diseases of the wilds; the silence of the woods holds no surprise for him, nor is he disturbed by the presence of wild beasts; he is constantly spurred on by a passion stronger than the love of life. Before him stretches an almost boundless continent and it is as though, already afraid of losing his place, he is in such a hurry not to arrive late.
É claro que essa urgência toda pode ser interpretada como uma simples ganância por terras, riquezas etc., mas o que Tocqueville deixa transparecer ao longo do texto é que esse aspecto aventureiro do homem (tão caro a ele próprio, um aristocrata francês!, assim como para Borges e a maioria dos chamados críticos da modernidade) foi reduzido a cinzas por todos nós. Em outras palavras, o homem deixou de arriscar sua vida por um ideal (por mais condenável que esse ideal seja) para usufruir da parafernália modernosa.

Como eu dizia, restou a terminologia. Isso ainda é facil de encontrar, principalmente em filmes e músicas. Um trecho da Stairway to Heaven, do Led Zeppelin:
There's a feeling I get when I look to the west,
And my spirit is crying for leaving.
In my thoughts I have seen rings of smoke through the trees,
And the voices of those who stand looking.
Ooh, it makes me wonder,
Ooh, it really makes me wonder.
Na Budapest, do Jethro Tull, uma das melhores músicas da história do rock:
I thought I saw her at the late night restaurant.
She would have sent blue shivers down the wall.
But she didn't grace our table.
In fact, she wasn't there at all.
Yes, and her legs went on forever.
Like staring up at infinity.
Her heart was spinning to the west-lands
and she didn't care to be
that night in Budapest.
Hot night in Budapest.
O Once Upon a Time in the West, western do Sergio Leone, acabou virando título de uma música do Dire Straits, que de resto já tinha lançado uma Wild West End um ano antes. Para o homem moderno o oeste voltou a ser apenas um ponto cardeal: no mínimo corremos o risco de perder uma boa metáfora.

02 maio, 2007

Jethro Tull For Dummies

No último final de semana, Jethro Tull, banda veterana do rock progressivo (sempre quis escrever isso, apesar de não ser um jornalista retardado), se apresentou no Credicard Hall, em São Paulo. O repertório parece ter desagradado aos rockeiros de plantão; era composto, em sua maioria, por músicas acústicas ou que se tornaram acústicas graças aos novos arranjos. Aqualung com o solo de guitarra reduzido, arranjo com flauta e violino: um verdadeiro sacrilégio. Um sujeito perdeu a vergonha e gritou: "Toca Raul!" Pois bem, o episódio me traz à memória o show do G3 em que Robert Fripp, do King Crimson, foi convidado. Também foi vaiado, é claro. Na ocasião, Fripp teria dito algo do tipo: "Parece que meus solos não têm notas suficientes para a juventude de hoje." A nova Aqualung não é suficiente para a juventude de hoje.

Felizmente Ian Anderson não está nem aí e inclusive incorporou a violinista Ann Marie Calhoun à banda, pelo menos para as apresentações ao vivo. Calhoun, como diria o próprio Anderson, fiddles furiously, além de ser lindinha. Como mensagem de despedida aos insatisfeitos, Anderson poderia repetir a música com que abriu o show, Some Day The Sun Won't Shine For You, do primeiro álbum da banda, This Was (1968):

In the morning - gonna get my things together.
Packing up and I'm leaving this place.
I don't believe you'll cry, there'll be a smile upon your face.

I didn't think how much you'd hurt me.
That's something that I laugh about.
Bring in the good times, baby.
And let the bad times out.

That old sun keeps on shining,
But someday it won't shine for you.
In the morning I'll be leaving.
I'll leave your mother too.

28 março, 2007

Um Ingrato

Em entrevista ao Fantástico de uma dessas semanas passadas, Roger Waters, ex-Pink Floyd, disse que não concorda com a maneira como o capitalismo se desenvolveu, dando a entender que vivemos numa espécie de concorrência selvagem e intrinsecamente injusta etc. Também não acha que Cuba indicaria um bom caminho, já que por lá não há liberdade de expressão (ainda bem que ele percebeu isso). "Deve haver uma terceira opção", pontificou ao final.

Resta saber se os habitantes do planeta onde vigora a tal terceira opção também pagariam entre R$ 140,00 e 500,00 para vê-lo em uma de suas apresentações ao vivo, como a do Morumbi do sábado último, que parece ter atraído quase 50 mil pessoas. E se se prontificariam, como nós terráqueos, a comprar mais de 40 milhões de cópias de um único disco de sua ex-banda, o The Dark Side of the Moon, lançado em 1973. O aspecto mais curioso do crítico empedernido do capitalismo é achar que o materialismo grosseiro, supostamente inerente ao sistema, só é repreensível nos outros. Waters poderia deixar de ser tão malcriado e ir criticar algo que não o beneficie direta e ostentosamente.

Isso nos leva à cruzada que Waters tem empreendido contra George W. Bush. Em seus shows pela América Latina, Waters fez questão de escrever mensagens anti-Bush no porco inflável que sempre aparece lá pela metade da apresentação. Em São Paulo, pudemos ler um 'Bush, nós [brasileiros] não estamos à venda' - numa provável referência à floresta Amazônica (havia também um 'Save the Amazon!') -, ao que poderíamos candidamente responder que, se estivéssemos mesmo à venda, não haveria quem quisesse comprar. Numa música sua mais recente, Leaving Beirut, executada em todos os shows da última turnê, lemos:
Are these the people that we should bomb
Are we so sure they mean us harm
Is this our pleasure, punishment or crime
Is this a mountain that we really want to climb
The road is hard, hard and long
Put down that two by four
This man would never turn you from his door
Oh George! Oh George!
That Texas education must have fucked you up when you were very small
A música narra um episódio de quando ele, passeando por Beirut aos 17 anos, foi gentilmente recebido por uma família local depois que seu carro quebrou. Infelizmente, a boa educação de uma família libanesa, há quase 50 anos, parece ser evidência suficiente de que a guerra no Líbano foi um erro. A música parece ser destinada àqueles que ainda acham que no Oriente Médio só há selvagens sanguinários ou terroristas maquiavélicos. Para quem já tem mais de 8 anos e um raciocínio razoavelmente são, porém, não parece haver conexão lógica entre o episódio e a guerra de 50 anos depois, a qual, lembremos, foi dirigida contra um grupo terrorista que atormenta famílias libanesas como a descrita acima.

Outra faixa fixa em seu repertório é a The Fletcher Memorial Home, lançada pelo Pink Floyd (The Final Cut, 1983), mas de composição exclusiva sua. Um trecho:
And they can appear to themselves every day
On closed circuit T.V.
To make sure they're still real.
It's the only connection they feel.
"Ladies and gentlemen, please welcome, Reagan and Haig,
Mr. Begin and friend, Mrs. Thatcher, and Paisly,
"Hello Maggie!"
Mr. Brezhnev and party.
"Scusi dov'è il bar?"
The ghost of McCarthy,
The memories of Nixon.

[...]

Did they expect us to treat them with any respect?
They can polish their medals and sharpen their
Smiles, and amuse themselves playing games for awhile.
Boom boom, bang bang, lie down you're dead.
Seria o caso de perguntar: ele espera que respeitemos alguém que, além de jogar Thatcher e Brezhnev num saco só, só vê joguinhos de bang bang na presidência de, por exemplo, Reagan? O pai de Roger Waters morreu na II Guerra, de tal maneira que esse pacifismo tresloucado tem ao menos uma origem justificável. Origem apenas. Não parece justificável que alguém com tanta projeção midiática e influência popular insista em se manter tão embaraçosamente desinformado quanto ao que acontece em seu redor. As letras de Waters, que são, quando muito, divertidas e/ou medianas, tinham ao menos a vantagem de ser um pouco mais sutis até certo ponto de sua carreira. A partir do The Final Cut, cujo processo de composição muito sugestivamente não contou com o restante da banda, a panfletagem esquerdosa tomou conta de tudo. Waters faria um enorme favor aos seus fãs (e à humanidade) se comentasse apenas sobre o que entende: música.

07 fevereiro, 2007

Um Post em Silêncio

Entusiasmado com a constatação de que três das quatro coisas que mais afligem minha paciência estão de alguma maneira relacionadas com o barulho (são elas: pessoas com mastigação barulhenta, qualquer tipo de barulho enquanto durmo e o barulho do telefone), resolvi escrever sobre o silêncio. Até o quarto membro da minha listinha, o calor, tem sua relação com a falta de silêncio: o pesquisador norte-americano William J. Shaffor, da Princeton University, mostrou recentemente que a agitação das partículas de ar (provocada pelo aumento excessivo da temperatura) num ambiente suficientemente pequeno e cuidadosamente vedado leva a colisões intermoleculares de uma intensidade tal que podem ser percebidas pelo ouvido humano.

Mas o silêncio tem uma história comprida e tortuosa, e muito me admira que ainda não tenham escrito (até onde eu saiba) uma História Universal do Silêncio. Como todo conceito excessivamente simples, o de silêncio pode assumir desdobramentos os mais variados e até mesmo contraditórios. Bem sei que essa última frase nada significa sem exemplos. Tomemos o capítulo LV das Memórias Póstumas, O Velho Diálogo de Adão e Eva:
BRáS CUBAS
. . . . . . . . . . . . . . . . .

VIRGíLIA
. . . . . . . . . . . . . .

BRáS CUBAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

VIRGíLIA
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . !

BRáS CUBAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

VIRGíLIA
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

BRáS CUBAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

VIRGíLIA
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .?

BRáS CUBAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . !

VIRGíLIA
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ?

BRáS CUBAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . !

VIRGíLIA
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . !
Outro exemplo bem conhecido, e que segue a mesma linha, pode ser encontrado no Anna Karenina de Tolstói, no momento em que Levin e Kitty finalmente se reconciliam:
'Here,' he said, and wrote the initial letters: w, y, a, m: t, c, b, d, i, m, n, o, t? These letters meant: 'When you answered me: "that cannot be", dit it mean never or then?' There was no likelihood that she would be able to understand this complex phrase, but he watched her with such a look as if his life depended on her understanding these words.

She glanced at him seriously, then leaned her knitted brow on her hand and began to read. Occasionally she glanced at him, asking with her glance: 'Is this what I think?'

'I understand,' she said, blushing. (...)

'Well, here, read this. I'll tell you what I would wish. Would wish very much!' She wrote the initial letters: t, y, c, f, a, f, w, h. It meant: 'that you could forgive and forget what happened'.

He seized the chalk with his tense, trembling fingers and, breaking it, wrote the initial letters of the following: 'I have nothing to forgive and forget, I have never stopped loving you.'
Nesses dois casos fica claro que o silêncio (ou a ausência de palavras, ou a ausência da necessidade de representá-las) dá conta de um entendimento ulterior, uma união especial que prescinde de qualquer elaboração linguística para fazer-se inteligível. Ora, ocorre que o silêncio pode vir a representar algo diametralmente oposto: o reconhecimento de que não há como estabelecer qualquer tipo satisfatório de comunicação. É mais ou menos disso que Italo Calvino reclama em sua palestra Exatidão:
A linguagem me parece sempre usada de modo aproximativo, casual, descuidado, e isso me causa intolerável repúdio. Que não vejam nessa reação minha um sinal de intolerância para com o próximo: sinto um repúdio ainda maior quando me ouço a mim mesmo. Por isso procuro falar o mínimo possível, e se prefiro escrever é que, escrevendo, posso emendar cada frase tantas vezes quanto ache necessário para chegar, não digo a me sentir satisfeito com minhas palavras, mas pelo menos a eliminar as razões de insatisfação de que me posso dar conta. A literatura - quero dizer, aquela que responde a essas exigências - é a Terra Prometida em que a linguagem se torna aquilo que na verdade deveria ser.
Feliz ou infelizmente, essa constatação pode ter contornos bem mais trágicos: o que em Calvino é apenas um repúdio contra o desleixo com que é tratada a linguagem, em outras mentes mais radicais pode adquirir a forma de um ultimatum contra qualquer possibilidade de comunicação humana. É a impressão que se depreende do manjadíssimo O Grito, do norueguês Edvard Munch:

Qualquer um percebe que o 'grito' só tem seu efeito marcante exatamente porque não podemos ouvi-lo: como diria Ortega, a moeda falsa circula apoiada pela moeda verdadeira. E, nesse caso como em muitos outros, a moeda verdadeira é o silêncio.

Em se tratando do efeito contrapontístico (mesmo na acepção não-musical do termo) do silêncio, pensa-se logo em música. O silêncio pode ser empregado numa inversão repentina ou num lânguido crescendo, e não chega a admirar que tenham surgido ocasiões para utilizações mais inovadoras do herói desse post: o compositor John Cage, por exemplo, resolveu 'compor' uma piece que consiste em quatro minutos e trinta e três segundos do mais inveterado silêncio. Quando perguntaram a respeito da importância do silêncio em sua obra, Cage limitou-se a responder que Until I die there will be sounds. And they will continue following my death. As for silence, there's a countdown to its extinction. A música popular brasileira também faz uso sublime do silêncio. Por exemplo, nos intervalos entre uma e outra música.

Na primeira imagem, Harpócrates, o deus helênico do silêncio.

09 janeiro, 2007

Let the Bells Ring

Let the Bells Ring - Nick Cave & the Bad Seeds


C'mon, kind Sir, let's walk outside
And breathe the autumn air
See the many that have lived and died
See the unending golden stair
See all of us that have come behind
Clutching at your hem
All the way from Arkansas
To your sweet and last amen

Let the bells ring
He is the real thing
Let the bells ring
He is the real, real thing

Take this deafening thunder down
Take this bread and take this wine
Your passing is not what we mourn
But the world you left behind
Well, do not breathe, nor make a sound
And behold your might work
That towers over the uncaring ground
Of a lesser, darker world

Let the bells ring
He is the real thing
Let the bells ring
He is the real, real thing

There are those of us not fit to tie
The laces of your shoes
Must remain behind to testify
Through an elementary blues
So, let's walk outside, the hour is late
Through your crumbs and scattered shells
Where the awed and the mediocre wait
Barely fit to ring the bells

Let the bells ring
He is the real thing
Let the bells ring
He is the real, real thing

11 junho, 2006

The Dangling Conversation

Para você-sabe-quem-você-é.


It's a still life watercolor,
Of a now late afternoon,
As the sun shines through the curtained lace
And shadows wash the room.
And we sit and drink our coffee
Couched in our indifference,
Like shells upon the shore
You can hear the ocean roar
In the dangling conversation
And the superficial sighs,
Are the borders of our lives.

And you read your Emily Dickinson,
And I my Robert Frost,
And we note our place with bookmarkers
That measure what we've lost.
Like a poem poorly written
We are verses out of rhythm,
Couplets out of rhyme,
In syncopated time
Lost in the dangling conversation
And the superficial sighs,
Are the borders of our lives.

Yes, we speak of things that matter,
With words that must be said,
Can analysis be worthwhile?
Is the theater really dead?
And how the room has softly faded
And I only kiss your shadow,
I cannot feel your hand,
You're a stranger now unto me
Lost in the dangling conversation.
And the superficial sighs,
In the borders of our lives.

(Paul Simon)

02 junho, 2006

Time Table


A carved oak table,
Tells a tale
Of times when kings and queens sipped wine from goblets gold,
And the brave would lead their ladies from out of the room
to arbours cool.

A time of valour, and legends born
A time when honour meant much more to a man than life
And the days knew only strife to tell right from wrong
Through lance and sword.

Why, why can we never be sure till we die
Or have killed for an answer,
Why, why do we suffer each race to believe
That no race has been grander
It seems because through time and space
Though names may change each face retains the mask it wore.

A dusty table
Musty smells
Tarnished silver lies discarded upon the floor
Only feeble light descends through a film of grey
That scars the panes.
Gone the carving,
And those who left their mark,
Gone the kings and queens now only the rats hold sway
And the weak must die according to nature's law
As old as they.

Why, why can we never be sure till we die
Or have killed for an answer,
Why, why do we suffer each race to believe
That no race has been grander
It seems because through time and space
Though names may change each face retains the mask it wore.

(Banks / Collins / Gabriel / Hackett / Rutherford)

18 maio, 2006

Neil Young

Vamos derrubar o presidente
Vamos derrubar o presidente por mentir
E por levar o país à guerra
Abusando do poder que lhe demos
E mandando nosso dinheiro para o buraco
Ele é o homem que contratou os criminosos
As sombras que se escondem por trás das portas fechadas da Casa Branca
E distorcem os fatos para justificar suas novas histórias
Sobre por que temos de mandar nossos homens para a guerra

Vamos derrubar o presidente por espionar
Os cidadãos dentro de suas casas
Quebrando todas as leis do país
Grampeando nossos computadores e telefones
E se a Al Qaeda explodisse as represas
Será que Nova Orleans estaria mais segura?


É com esse banho de singeleza que o cantor e compositor Neil Young pretende propugnar o impeachment do presidente George W. Bush, na canção entitulada (qualquer semelhança com Ramones não é mera coincidência) Let's Impeach the President. O mais estarrecedor é que o colunista da Veja, Sérgio Martins, tem o desplante de dizer que "O trunfo do roqueiro é que ele é um dos poucos que sabem protestar sem aborrecer." Resta saber de que salas de tortura Martins aduziu seus padrões de aborrecimento.

17 janeiro, 2006

Dun Ringill


Clear light on a slick palm
as I mis-deal the day.
Slip the night from a shaved pack
make a marked card play.
Call twilight hours down
from a heaven home
high above the highest bidder
for the good Lord's throne.

In the wee hours I'll meet you
down by Dun Ringill.
Oh, and we'll watch the old gods play
by Dun Ringill, by Dun Ringill.

We'll wait in stone circles
'til the force comes through.
Lines join in faint discord
and the stormwatch brews
a concert of kings
as the white sea snaps
at the heels of a soft prayer
whispered.

In the wee hours I'll meet you
down by Dun Ringill.
Oh, and I'll take you quickly
by Dun Ringill,
by Dun Ringill,
by Dun Ringill.

(From Jethro Tull's Stormwatch)

Meu amigo João, que já esteve lá diversas vezes, garante que é verdade.