22 agosto, 2007

Reforma Ortográfica

Uma das vantagens do pessoal de exatas é dar a devida importância a novidades como essa da reforma ortográfica: a saber, nenhuma. Não dão importância pelo motivo errado, mas isso é outro problema; já fico contente por ter de ouvir a respeito apenas en passant, com um ou outro bocejo dando o tom da conversa. Uma discussão acalorada sobre a desimportância pedagógica das consoantes mudas definitivamente não faz meu tipo de debate intelectual. Os reformistas de plantão deviam ouvir o conselho de Lincoln que vai ao lado. Como se vê, não é de hoje que essa mania desenfreada de mudanças inspira suspeitas.

O certo é que continuarei acentuando idéia, assembléia etc., e o trema eu já não usava porque nem sei onde fica isso no meu teclado. Quanto às consoantes mudas, não há dúvida de que nossos colegas portugueses saem perdendo. Sempre tive a impressão de lidar com uma língua remendada ao ter de escrever, numa mesa frase, Egito, em vez de Egipto, e egípcios; fato, em vez de facto, e factual. Sempre há quem pense nas criancinhas, na hercúlea dificuldade que há em escrever algo que não se pronuncia (numa insinuação involuntária de que o brasileiro é incapaz de aprender o inglês, ou, pensando bem, quase qualquer outra língua). Deviam primeiro alfabetizá-las pra depois pensar nesses detalhes.

Meu único consolo é que surge mais uma oportunidade pra implicar com o Saramago. O velhinho insiste em que seus livros sejam publicados no Brasil com a ortografia lusitana. Estou curioso pra ver que impulso vai prevalecer, o do estilista metido a besta ou o do escrevinhador politicamente correto. É pelo bem das criancinhas, Saramago!