10 julho, 2006

Férias e a Volúpia da Ociosidade

Perhaps one of the most important accomplishments of my administration has been minding my own business.

- Calvin Coolidge, trigésimo presidente dos Estados Unidos.
Fiquei de férias hoje. Serão duas semanas do mais completo e obstinado ócio. Isso mesmo: a menos que algo de catastrófico aconteça, pretendo ficar à toa. Já escrevi sobre o quanto as pessoas gostam de que todos saibam que elas são ocupadas. Deviam, como eu, orgulhar-se da vagabundagem estéril e inofensiva.

Sempre desconfiei de pessoas excessivamente empenhadas no que quer que seja, a menos que seja no aprimoramento da própria inteligência. Minto: tenho medo delas. Em especial, tenho medo de quem quer salvar o mundo. Se podem salvar o mundo, podem muito bem destruí-lo. Não tenho a menor obrigação de concordar com o que este ou aquele entende por um mundo salvo. Salvo ou não, condenado ou não às chamas do inferno, ainda prefiro o mundo assim: existindo. Muitos dos grandes salvadores que se nos apresentaram até hoje não demonstraram semelhante escrúpulo.

Vejam a figura do militante político exacerbado, do estudante revolucionário ou do docente doutrinador. Eles estão muito ocupados consigo mesmos para pensar nos outros, apesar de todo o seu trabalho ser singelamente dedicado aos outros. Não gastam um minuto que seja de seus preciosos dias a contemplar as paredes de seus quartos ou a pensar algo perfeitamente inútil. E é por isso que, invariavelmente, são uns canalhas. Só por não ter o hábito de dizer besteiras em público, já contribuí para o bem da humanidade muito mais que todos eles somados. Mereço uma medalha. E quero recebê-la sem que perturbem a letargia do meu sono.

Sim, a verdade é que o mundo seria melhor se não nos preocupássemos tanto uns com os outros. Não sou eu quem diz isso; é Alberto Caeiro. E não me venham dizer que "é só poesia". É uma constatação da vida real, e verdadeira exatamente porque, na prática, não nos importamos uns com os outros, apesar de morrermos para que todos acreditem nisso. O Mal vem dos hipócritas, dizia Stevenson.