20 janeiro, 2006

Cientologia e Dianética


Tudo isso para chegarmos à visita que fiz, em Washington D. C., à primeira 'igreja' da Cientologia, fundada por Hubbard em 1955. Apresentei-me como um simples curioso, alem de fã de carteirinha do Tom Cruise. Só isso já me rendeu um comentário mais risonho: He's everywhere now, isn't he? That's great. Fui convidado a fazer um tour introdutório ali mesmo, durante o qual foram relatadas algumas das façanhas do Hubbard-prodígio: chegou a ser Eagle Scout quando tinha apenas 13 anos, precocidade não superada até os dias de hoje (a inverossimilhança desse depoimento deve ser evidente a todos que tenham um mínimo de familiaridade com o Boy Scouts of America); já lia e escrevia aos 3 (três) anos de idade; e escreveu, ao todo, mais de 70 (setenta) livros de ficção científica. A minha hostess entusiasmou-se tanto que deixou escapar um He's written thousands of books overall, o que soa exagerado até para uma inteligência tão prolífica como a de Hubbard.

Fui então conduzido a um 'museu' da Cientologia, localizado dois quarteirões adiante, onde fui recepcionado por um senhor que já até sabia que eu era um visitante brasileiro. Senti-me como Carpeaux ao adentrar a Universidade de sua 'cidade natal' pela primeira vez, estranhamente compelido pela força sugestiva de tudo o que me circundava. Teve início o tour oficial, que se estenderia pelos próximos 45 minutos. Ouvi atentamente algumas das aventuras do engenheiro civil, do físico nuclear, do navegador, do soldado, do advogado, do escritor de ficção científica, do psicólogo, do teólogo, do, enfim, testamentário e guardião de todo o conhecimento acumulado até hoje que foi L. Ron Hubbard. Levaram-me ao escritório onde ele trabalhava e que, segundo consta, foi mantido exatamente como ele o deixou. Um detalhe me chamou logo a atenção: a biblioteca pessoal de Hubbard contém apenas livros escritos por Hubbard, detalhe esse que me levou, naturalmente, a perguntar que autores teriam inspirado o jovem gênio, nos mais variados campos do conhecimento pelos quais ele enveredou. His inspiration were his own experiences, foi a resposta. Augusto Cury definitivamente não está sozinho.

Dando sequência ao passeio, foi-me apresentada a Dianética, teoria científica que deveria ser capaz de elucidar as mais obscuras engrenagens da mente humana. A teoria é norteada pela constatação de que nossa mente (ou nosso 'espírito', se quisermos ser mais gerais) é um ente independente e intrinsecamente 'feliz', cuja felicidade só pode ser, e é, ameaçada pela corruptibilidade de nossos corpos. Um detalhe que não me foi confiado nesse momento (certamente para não assustar os não-iniciados) é que, de acordo com o imaginário hubbardiano, em eras imemoriais, nossos espíritos vagavam contentamente numa espécie de vazio transcendental até que, enfadados, 'para brincar', criaram o homem e nele se instalaram. Assim sendo, uma dor de cabeça pode ser facilmente superada se treinarmos nossa mente para esse fim, isto é, se nossa mente aprender a ignorar o estímulo físico responsável pela dor. (Meu guia asseverou por diversas vezes que não gripa desde 1979). Além dessas propriedades miraculosamente anestésicas e imunológicas, a Dianética também nos mostra o caminho para um convívio social mais harmonioso.

Como prova cabal de que essa entidade sempiterna e misteriosa - o espírito - realmente existe e é literalmente palpável, fui convidado a observar meus pensamentos, a manifestação essencial do meu espírito, num monitor. Trata-se de uma aparelhagem elétrica bem simples, composta de dois pesos de metal (que deveriam ser segurados por mim, um em cada mão) ligados por um fio provido de um medidor de corrente. Um pequeno gerador foi ligado e uma corrente de aproximadamente 1,5 volt (penso inclusive que Hubbard tencionava desconstruir o eletromagnetismo clássico, ao atribuir unidade de diferença de potencial, o volt, a corrente elétrica) começou a passar pelo meu corpo. Meu guia, então, deu-me um beliscão, e a agulha se moveu um pouco. Now remember that pain you've just felt, disse ele, e a agulha se moveu um pouco mais que antes. Now remember that pain you've just felt, but imagine there's blood dripping from your arm, e a agulha se moveu ainda mais que da vez anterior. Finda a demonstração.

Acrescento a circunstância de que meu guia me mostrou tudo isso com um brilho no olhar e com um tom tão genuinamente entusiasmado que me foi impossível não recordar a figura de Quincas Borba, a que empunha quando se ocupava em expor os fundamentos de sua filosofia revolucionária. Só faltaram os passos de dança.