Algo que nos impressiona em Apocalypto é o morticínio levado a cabo para aplacar a sede dos deuses maias. Realmente, o filme mostra umas 5 ou 6 cabeças rolando a escadaria principal de um zigurate antes que os deuses, nas palavras do próprio chefe de cerimônias (v. foto), se dêem por satisfeitos. É um choque principalmente para aqueles que, submersos na produção historiográfica do século 20, ainda vêem as civilizações ameríndeas como compostas de astrônomos delicados e arquitetos metidos a artistas.
Nesse sentido, Mel Gibson nos faz um grande favor ao deixar os colonizadores europeus totalmente de fora, o que por si só já pareceria um absurdo para um filme que se propõe a mostrar a civilização maia em decadência. Não há dúvidas de que há muito o que dizer sobre a violência dos conquistadores espanhóis: alguns dos relatos são de revirar o estômago. Mas a prática de sacrificar seres humanos em rituais religiosos, como se sabe, é algo bem distante do modus operandi cristão.
É claro que tanta selvageria não teria como não deixar sua marca nas manifestações artísticas dessas civilizações. No filme mesmo os prisioneiros de guerra, a caminho da execução, podem ver os painéis de pedra em que outros prisioneiros como eles são degolados e empalados, e têm seus corações arrancados ainda em vida. Há sangue por toda parte. Os deuses têm sede.
Paul Johnson, no capítulo de sua História da Arte (Art: A New History) que trata da Espanha, observa que
As cenas de violência são realmente muitas, mas, se querem mesmo saber, não me pareceram exageradas. A verdade é que, no ambiente em que estamos, a violência exagerada parece brotar naturalmente, e por isso mesmo deixa de ser exagerada. Um jaguar mastigando a cabeça de um índio ou uma flecha atravessando a nuca (até sair pela boca) de outro não me parecem de maneira alguma desconectados com o fanatismo sanguinário que permeia boa parte do filme.
E finalmente, respondendo a um comentário que já ouvi mais de uma vez - como poderia o filme retratar a decadência da civilização maia se mais da metade dele se ocupa em mostrar a perseguição de um único índio? - eu diria que, não havendo decadência, não haveria perseguição. Aliás, isso é algo que o filme faz questão de deixar explicíto desde o início: a decomposição começa internamente.
Nesse sentido, Mel Gibson nos faz um grande favor ao deixar os colonizadores europeus totalmente de fora, o que por si só já pareceria um absurdo para um filme que se propõe a mostrar a civilização maia em decadência. Não há dúvidas de que há muito o que dizer sobre a violência dos conquistadores espanhóis: alguns dos relatos são de revirar o estômago. Mas a prática de sacrificar seres humanos em rituais religiosos, como se sabe, é algo bem distante do modus operandi cristão.
É claro que tanta selvageria não teria como não deixar sua marca nas manifestações artísticas dessas civilizações. No filme mesmo os prisioneiros de guerra, a caminho da execução, podem ver os painéis de pedra em que outros prisioneiros como eles são degolados e empalados, e têm seus corações arrancados ainda em vida. Há sangue por toda parte. Os deuses têm sede.
Paul Johnson, no capítulo de sua História da Arte (Art: A New History) que trata da Espanha, observa que
A fierce European detestation of human sacrifice went right back to the Romans, and had been steadily reinforced by Christian teaching. It took many forms in the Americas but one in particular made the flesh of the Spanish creep. From about 1200 BC right up to the conquest, a religious ritual game had been played, with a rubber ball, in which the players of the losing team were decapitated by the other side. In the Leiden Museum there are pottery figures showing players grasping knives and trophies in the form of heads, and decapitating losing players. Stone relief panels and stone steles tell the same gruesome story.Gibson, em Apocalypto, escolheu um 'jogo' mais popular, em que os prisioneiros correm enquanto os demais testam a pontaria com pedras, lanças e flechas.
As cenas de violência são realmente muitas, mas, se querem mesmo saber, não me pareceram exageradas. A verdade é que, no ambiente em que estamos, a violência exagerada parece brotar naturalmente, e por isso mesmo deixa de ser exagerada. Um jaguar mastigando a cabeça de um índio ou uma flecha atravessando a nuca (até sair pela boca) de outro não me parecem de maneira alguma desconectados com o fanatismo sanguinário que permeia boa parte do filme.
E finalmente, respondendo a um comentário que já ouvi mais de uma vez - como poderia o filme retratar a decadência da civilização maia se mais da metade dele se ocupa em mostrar a perseguição de um único índio? - eu diria que, não havendo decadência, não haveria perseguição. Aliás, isso é algo que o filme faz questão de deixar explicíto desde o início: a decomposição começa internamente.
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