23 setembro, 2006

Alckmin?


Chegamos a um ponto em que votar em Alckmin já se tornou um imperativo moral. Fala-se muito da clivagem relativa às camadas sociais dos eleitores nessas eleições, mas o que vemos é uma reflexão do óbvio: quando o que se precisa para repudiar um candidato é uma quantidade ínfima de informação, não votarão nele aqueles que têm essa informação. Seria o caso de estranhar por que essa clivagem não é ainda mais acentuada: por que diabos ainda há gente que, ganhando mais de 10 salários mínimos, ainda não se decidiu a votar em Alckmin?

Há, claro está, os que se beneficiarão diretamente com a eleição de um outro candidato. Não me refiro a esses. Tampouco me refiro aos que sucumbiram ao mito Lula, o torneiro mecânico (tive a oportunidade de conversar com um técnico de torno, e fui informado de que acidentes nesse tipo de equipamento são impossíveis sem uma boa dose de negligência) que ascendeu aos céus. Esses não têm mais volta. Podemos mostrar-lhes as provas mais cabais e esses fanáticos continuarão irredutíveis; quando muito, interpretarão as provas como um embuste, uma conspiração para derrubar o metalúgirco-prodígio que, dessa forma, sair-se-á com uma aura ainda mais angélica e supernatural, mesmo sendo um inveterado troglodita. Não, não me refiro a esses: é perfeitamente compreensível que votem em Lula ou em qualquer outro que não Alckmin.

Há tambem os que, lendo uma ou outra manchete de jornal, se dizem decepcionados com o PT ou com Lula, resignando-se a votar em Heloísa Helena ou nulo. Mais uma vez, é possível compreendê-los. Certamente também haverá aqueles que acreditam com sinceridade nos méritos de Cristovam Buarque. Até aí nada de grotesco. Restam, porém, aqueles que apesar de não terem sucumbido ao mito, e apesar de não poderem contar com nenhum benefício direto com a eleição de qualquer candidato, e muito embora não sejam doidivanas a ponto de acreditar que alguém como Heloísa Helena seja necessariamente menos perigosa que Lula, e conquanto não queiram desperdiçar o voto num cachorro morto como o Buarque, ainda assim não votam em Alckmin. Fora dessas já mencionadas categorias, é logicamente indefensável não votar em Alckmin.

Existe sempre a ilusão do voto nulo. Cria-se a impressão de que o voto nulo isenta o eleitor de qualquer responsabilidade, ou que lhe serve como carta de protesto contra a situação que aí está. Ocorre que quem já tem mais de 12 anos (e isso inclui, alas, todos os votantes) intui facilmente que, nessas eleições, votar nulo significa votar Lula. Como explicar essa omissão em massa? Ora, não há como explicar, a menos que apelemos para fatalismos do tipo "o brasileiro é burro mesmo." Reparem que, no post Alckmin?, nem sequer falei sobre Alckmin. E com razão: não há a menor necessidade.