Em entrevista ao Fantástico de uma dessas semanas passadas, Roger Waters, ex-Pink Floyd, disse que não concorda com a maneira como o capitalismo se desenvolveu, dando a entender que vivemos numa espécie de concorrência selvagem e intrinsecamente injusta etc. Também não acha que Cuba indicaria um bom caminho, já que por lá não há liberdade de expressão (ainda bem que ele percebeu isso). "Deve haver uma terceira opção", pontificou ao final.
Resta saber se os habitantes do planeta onde vigora a tal terceira opção também pagariam entre R$ 140,00 e 500,00 para vê-lo em uma de suas apresentações ao vivo, como a do Morumbi do sábado último, que parece ter atraído quase 50 mil pessoas. E se se prontificariam, como nós terráqueos, a comprar mais de 40 milhões de cópias de um único disco de sua ex-banda, o The Dark Side of the Moon, lançado em 1973. O aspecto mais curioso do crítico empedernido do capitalismo é achar que o materialismo grosseiro, supostamente inerente ao sistema, só é repreensível nos outros. Waters poderia deixar de ser tão malcriado e ir criticar algo que não o beneficie direta e ostentosamente.
Isso nos leva à cruzada que Waters tem empreendido contra George W. Bush. Em seus shows pela América Latina, Waters fez questão de escrever mensagens anti-Bush no porco inflável que sempre aparece lá pela metade da apresentação. Em São Paulo, pudemos ler um 'Bush, nós [brasileiros] não estamos à venda' - numa provável referência à floresta Amazônica (havia também um 'Save the Amazon!') -, ao que poderíamos candidamente responder que, se estivéssemos mesmo à venda, não haveria quem quisesse comprar. Numa música sua mais recente, Leaving Beirut, executada em todos os shows da última turnê, lemos:
Outra faixa fixa em seu repertório é a The Fletcher Memorial Home, lançada pelo Pink Floyd (The Final Cut, 1983), mas de composição exclusiva sua. Um trecho:
Resta saber se os habitantes do planeta onde vigora a tal terceira opção também pagariam entre R$ 140,00 e 500,00 para vê-lo em uma de suas apresentações ao vivo, como a do Morumbi do sábado último, que parece ter atraído quase 50 mil pessoas. E se se prontificariam, como nós terráqueos, a comprar mais de 40 milhões de cópias de um único disco de sua ex-banda, o The Dark Side of the Moon, lançado em 1973. O aspecto mais curioso do crítico empedernido do capitalismo é achar que o materialismo grosseiro, supostamente inerente ao sistema, só é repreensível nos outros. Waters poderia deixar de ser tão malcriado e ir criticar algo que não o beneficie direta e ostentosamente.
Isso nos leva à cruzada que Waters tem empreendido contra George W. Bush. Em seus shows pela América Latina, Waters fez questão de escrever mensagens anti-Bush no porco inflável que sempre aparece lá pela metade da apresentação. Em São Paulo, pudemos ler um 'Bush, nós [brasileiros] não estamos à venda' - numa provável referência à floresta Amazônica (havia também um 'Save the Amazon!') -, ao que poderíamos candidamente responder que, se estivéssemos mesmo à venda, não haveria quem quisesse comprar. Numa música sua mais recente, Leaving Beirut, executada em todos os shows da última turnê, lemos:
Are these the people that we should bombA música narra um episódio de quando ele, passeando por Beirut aos 17 anos, foi gentilmente recebido por uma família local depois que seu carro quebrou. Infelizmente, a boa educação de uma família libanesa, há quase 50 anos, parece ser evidência suficiente de que a guerra no Líbano foi um erro. A música parece ser destinada àqueles que ainda acham que no Oriente Médio só há selvagens sanguinários ou terroristas maquiavélicos. Para quem já tem mais de 8 anos e um raciocínio razoavelmente são, porém, não parece haver conexão lógica entre o episódio e a guerra de 50 anos depois, a qual, lembremos, foi dirigida contra um grupo terrorista que atormenta famílias libanesas como a descrita acima.
Are we so sure they mean us harm
Is this our pleasure, punishment or crime
Is this a mountain that we really want to climb
The road is hard, hard and long
Put down that two by four
This man would never turn you from his door
Oh George! Oh George!
That Texas education must have fucked you up when you were very small
Outra faixa fixa em seu repertório é a The Fletcher Memorial Home, lançada pelo Pink Floyd (The Final Cut, 1983), mas de composição exclusiva sua. Um trecho:
And they can appear to themselves every daySeria o caso de perguntar: ele espera que respeitemos alguém que, além de jogar Thatcher e Brezhnev num saco só, só vê joguinhos de bang bang na presidência de, por exemplo, Reagan? O pai de Roger Waters morreu na II Guerra, de tal maneira que esse pacifismo tresloucado tem ao menos uma origem justificável. Origem apenas. Não parece justificável que alguém com tanta projeção midiática e influência popular insista em se manter tão embaraçosamente desinformado quanto ao que acontece em seu redor. As letras de Waters, que são, quando muito, divertidas e/ou medianas, tinham ao menos a vantagem de ser um pouco mais sutis até certo ponto de sua carreira. A partir do The Final Cut, cujo processo de composição muito sugestivamente não contou com o restante da banda, a panfletagem esquerdosa tomou conta de tudo. Waters faria um enorme favor aos seus fãs (e à humanidade) se comentasse apenas sobre o que entende: música.
On closed circuit T.V.
To make sure they're still real.
It's the only connection they feel.
"Ladies and gentlemen, please welcome, Reagan and Haig,
Mr. Begin and friend, Mrs. Thatcher, and Paisly,
"Hello Maggie!"
Mr. Brezhnev and party.
"Scusi dov'è il bar?"
The ghost of McCarthy,
The memories of Nixon.
[...]
Did they expect us to treat them with any respect?
They can polish their medals and sharpen their
Smiles, and amuse themselves playing games for awhile.
Boom boom, bang bang, lie down you're dead.