Diogo Mainardi fala da série Capitu em sua última coluna. Alguns trechos:
Eu chutaria que a racionalização da patifaria como um todo é a dificuldade de adaptar obras do Machado. O brasileiro tende a associar criatividade e festa intimamente; se uma obra é mesmo muito criativa e sobrevive aos tempos, é necessário uma adaptação que desmonte todos os padrões cênicos usuais, de preferência com muita dança, algazarra e cores espalhafatosas. No episódio que vi, Escobar não parava de dançar. O que significa isso?
Parece que é ou isso ou adaptações mornas, como as que fizeram do Memórias Póstumas e do Primo Basílio. Todos querem um pouco da glória da pouca literatura em língua portuguesa que deu certo, mas boa inspiração apenas não opera milagres. Talvez precisemos de um temperamento um pouco menos brasileiro.
Nada nele recorda o "Dom Casmurro" de Machado de Assis, apesar de reproduzir diálogos do romance. Na série, Bentinho aparece estranhamente caracterizado como Dick Vigarista, do desenho animado Corrida Maluca: nas roupas, no bigode, na magreza, no temperamento e, acima de tudo, na canastrice do ator que desempenha seu papel. Qual é o melhor candidato a Muttley? O agregado José Dias. (...) A série Capitu tem um aspecto circense. É Machado de Assis encenado por Orlando Orfei. É Bentinho imitando Arrelia no picadeiro de Fausto Silva: "Como vai, como vai, vai, vai? Eu vou bem, muito bem, bem, bem". Luiz Fernando Carvalho usa uma linguagem grotesca, afetada, espalhafatosa, cheia de contorcionismos e de malabarismos.A coisa é mesmo heterodoxa. Mainardi esqueceu de mencionar que deram um jeito de enfiar versões de músicas do Pink Floyd e do Black Sabbath (!) na trilha sonora, que o cabelo do Bentinho jovem tem estatura digna de um black power, nada obstante ele ser branco e seminarista, e que o sujeito que interpreta José Dias, logo o alinhadíssimo José Dias, tem um jeito marcadamente afeminado. Vi tudo isso num só episódio.
Eu chutaria que a racionalização da patifaria como um todo é a dificuldade de adaptar obras do Machado. O brasileiro tende a associar criatividade e festa intimamente; se uma obra é mesmo muito criativa e sobrevive aos tempos, é necessário uma adaptação que desmonte todos os padrões cênicos usuais, de preferência com muita dança, algazarra e cores espalhafatosas. No episódio que vi, Escobar não parava de dançar. O que significa isso?
Parece que é ou isso ou adaptações mornas, como as que fizeram do Memórias Póstumas e do Primo Basílio. Todos querem um pouco da glória da pouca literatura em língua portuguesa que deu certo, mas boa inspiração apenas não opera milagres. Talvez precisemos de um temperamento um pouco menos brasileiro.
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