Este blog tem um belíssimo histórico de preguiça. Procurei escrever uma ode ao ócio a cada vez que ficava de férias (aqui e aqui). Está claro que isso não poderia durar para sempre.
Agora que minhas férias foram sacrificadas, posso ao menos verificar algo de que desconfiava desde há muito: o sujeito ocupado demais pensa muito pouco. Claro que esse meu 'ocupado' diz respeito a ocupações hodiernas; Tucídides não pensou menos por ter participado da guerra do Peloponeso, antes o contrário.
As ocupações hodiernas são as que primam pela rotina, pela homogeneização, pela sistematização. A linguagem par excellence dessa nova realidade não poderia ser outra que não a linguagem de programação computacional. É o artifício que nos permite repetir indefinidamente um processo relativamente simples, sem risco de erro. Ocorre que a repetição não deixa de existir, apenas foi automatizada. Digo isso porque o funcionário está sempre sob a impressão de que tudo quanto é repetitivo é feito pelo computador, enquanto aquilo que exige espontaneidade e criatividade continua sob a jurisdição do homem. Ora, nem tudo que ainda não foi automatizado exige criatividade; muitas dessas coisas só não foram automatizadas porque ainda não surgiu alguém que soubesse fazê-lo. E a tendência é que esse alguém surja num futuro próximo.
O fato é que, no white-collar job, mesmo as tarefas ditas mais nobres são, no fundo, de natureza repetitiva. Desgraçadamente, a mente humana parece se refestelar na repetição: imprime-se um ritmo e não se fala (pensa) mais nisso. Não parece muito difícil concluir que uma tal rotina leva fatalmente ao esquecimento (o contrário do que Nietzsche entendia por memória quando dizia que o homem superior é aquele de mais larga memória). Filosofia, para Ortega y Gasset, consiste mais ou menos no constante processo de tomada de decisões que nossas vidas nos sugerem. Essas sugestões podem ser percebidas ou não, e, ao que parece, só as percebemos quando não há mais jeito.
É bem verdade que o ócio pode (estranho seria se não pudesse) levar a uma inanição mental igual ou pior. Mas pelo menos não leva a esse caminho necessariamente. Já a correria do escritório não nos deixa outra alternativa que não seguir correndo. E o que é pior: ao final do dia, ainda resta a impressão de que o tempo foi bem aproveitado. Alas, se o aproveitamento for medido em bits, não estaremos errados.
Agora que minhas férias foram sacrificadas, posso ao menos verificar algo de que desconfiava desde há muito: o sujeito ocupado demais pensa muito pouco. Claro que esse meu 'ocupado' diz respeito a ocupações hodiernas; Tucídides não pensou menos por ter participado da guerra do Peloponeso, antes o contrário.
As ocupações hodiernas são as que primam pela rotina, pela homogeneização, pela sistematização. A linguagem par excellence dessa nova realidade não poderia ser outra que não a linguagem de programação computacional. É o artifício que nos permite repetir indefinidamente um processo relativamente simples, sem risco de erro. Ocorre que a repetição não deixa de existir, apenas foi automatizada. Digo isso porque o funcionário está sempre sob a impressão de que tudo quanto é repetitivo é feito pelo computador, enquanto aquilo que exige espontaneidade e criatividade continua sob a jurisdição do homem. Ora, nem tudo que ainda não foi automatizado exige criatividade; muitas dessas coisas só não foram automatizadas porque ainda não surgiu alguém que soubesse fazê-lo. E a tendência é que esse alguém surja num futuro próximo.
O fato é que, no white-collar job, mesmo as tarefas ditas mais nobres são, no fundo, de natureza repetitiva. Desgraçadamente, a mente humana parece se refestelar na repetição: imprime-se um ritmo e não se fala (pensa) mais nisso. Não parece muito difícil concluir que uma tal rotina leva fatalmente ao esquecimento (o contrário do que Nietzsche entendia por memória quando dizia que o homem superior é aquele de mais larga memória). Filosofia, para Ortega y Gasset, consiste mais ou menos no constante processo de tomada de decisões que nossas vidas nos sugerem. Essas sugestões podem ser percebidas ou não, e, ao que parece, só as percebemos quando não há mais jeito.
É bem verdade que o ócio pode (estranho seria se não pudesse) levar a uma inanição mental igual ou pior. Mas pelo menos não leva a esse caminho necessariamente. Já a correria do escritório não nos deixa outra alternativa que não seguir correndo. E o que é pior: ao final do dia, ainda resta a impressão de que o tempo foi bem aproveitado. Alas, se o aproveitamento for medido em bits, não estaremos errados.
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