Estava lendo um artigo sobre aborto e o sujeito mencionou o filme Juno por algum motivo. Resolvi ver. O filme é engraçadinho, e ainda não sei se isso é bom ou ruim.
Confesso que nunca conheci uma menina que tenha ficado grávida aos 16 anos; provavelmente não conheço ninguém que conheça. Convivi por um ano com adolescentes americanos de 17, 18 anos mas era um grupo bem restrito. No filme, o que mais me espantou foi a reação da Juno ao descobrir que estava grávida. Ligou pra uma amiga e a amiga já foi perguntando se queria que ela ligasse pra clínica de aborto. Tudo mais ou menos natural e automático.
Resolvi ver o filme porque ouvi dizer que Juno desistia do aborto quando lhe diziam que um feto de 2/3 meses já deve ter unhas. Imaginei logo algum tipo de crise de consciência, uma exegesezinha moral ainda que em nível infanto-juvenil (parece que a roteirista ganhou o Oscar -- estaria eu exigindo muita coisa?). Haja burrice! É claro que não se sabe ao certo por que Juno desistiu da idéia (o filme não está interessado nisso), mas ela explica a decisão pra amiga lembrando que a clínica cheira a consultório odontológico e que a recepcionista é pervertida.
Posso estar errado, mas esse é mais um daqueles filmes cuja mensagem principal se reduz a 'sejamos doidinhos e divertidos, mas com limites'. A idéia é que, por mais irresponsável que a pessoa seja, tudo vai dar certo no final se ela for do 'bem', tiver boas intenções etc. Juno é bem simpática, tem umas tiradas engraçadas; está claro que ela é do bem.
O problema com esse tipo de raciocínio é que, quanto mais ele avança, mais se perde a capacidade de definir critérios para o que é certo e errado, bom e ruim etc (ou, o que é pior, os critérios passam a ser de uma puerilidade assustadora, podendo ser substituídos sem muita cerimônia). Isso é visível no filme inteiro: o pai adotivo que Juno arranja pro seu filho é legal porque toca guitarra, gosta de filmes de terror e é simpático. A mãe adotiva, que é quem está realmente interessada na adoção e lê a torto e a direito sobre parenting, aparece como um incômodo, uma esquisitona. Num momento emblemático do filme, em que Juno vai visitar o Mark, o pai adotivo, esse último declara aliviado: 'we're free', isto é, Vanessa, a mulher dele, não se encontra em casa. Já consigo perceber os olhares acusatórios: é exagero, paranóia, teoria da conspiração; Mark só quis dizer que estavam livres pra conversar bobagens. Pode até ser. Mas o restante do filme me permite essa extrapolação de picuinhas.
A essa altura é natural perguntar: onde estão os pais de Juno, o que eles acham disso tudo? Juno fica ansiosa antes de contar tudo a eles; chega a implorar clemência! Não sei se isso foi a sério ou apenas uma genuflexão aos tempos em que esse medo todo realmente faria sentido. Depois de poucos segundos e alguns suspiros o pai de Juno já fazia piada com o pai do pequeno indesejado ('não imaginava que ele seria capaz...'). É isso aí: com humor a gente se ajeita.
Confesso que nunca conheci uma menina que tenha ficado grávida aos 16 anos; provavelmente não conheço ninguém que conheça. Convivi por um ano com adolescentes americanos de 17, 18 anos mas era um grupo bem restrito. No filme, o que mais me espantou foi a reação da Juno ao descobrir que estava grávida. Ligou pra uma amiga e a amiga já foi perguntando se queria que ela ligasse pra clínica de aborto. Tudo mais ou menos natural e automático.
Resolvi ver o filme porque ouvi dizer que Juno desistia do aborto quando lhe diziam que um feto de 2/3 meses já deve ter unhas. Imaginei logo algum tipo de crise de consciência, uma exegesezinha moral ainda que em nível infanto-juvenil (parece que a roteirista ganhou o Oscar -- estaria eu exigindo muita coisa?). Haja burrice! É claro que não se sabe ao certo por que Juno desistiu da idéia (o filme não está interessado nisso), mas ela explica a decisão pra amiga lembrando que a clínica cheira a consultório odontológico e que a recepcionista é pervertida.
Posso estar errado, mas esse é mais um daqueles filmes cuja mensagem principal se reduz a 'sejamos doidinhos e divertidos, mas com limites'. A idéia é que, por mais irresponsável que a pessoa seja, tudo vai dar certo no final se ela for do 'bem', tiver boas intenções etc. Juno é bem simpática, tem umas tiradas engraçadas; está claro que ela é do bem.
O problema com esse tipo de raciocínio é que, quanto mais ele avança, mais se perde a capacidade de definir critérios para o que é certo e errado, bom e ruim etc (ou, o que é pior, os critérios passam a ser de uma puerilidade assustadora, podendo ser substituídos sem muita cerimônia). Isso é visível no filme inteiro: o pai adotivo que Juno arranja pro seu filho é legal porque toca guitarra, gosta de filmes de terror e é simpático. A mãe adotiva, que é quem está realmente interessada na adoção e lê a torto e a direito sobre parenting, aparece como um incômodo, uma esquisitona. Num momento emblemático do filme, em que Juno vai visitar o Mark, o pai adotivo, esse último declara aliviado: 'we're free', isto é, Vanessa, a mulher dele, não se encontra em casa. Já consigo perceber os olhares acusatórios: é exagero, paranóia, teoria da conspiração; Mark só quis dizer que estavam livres pra conversar bobagens. Pode até ser. Mas o restante do filme me permite essa extrapolação de picuinhas.
A essa altura é natural perguntar: onde estão os pais de Juno, o que eles acham disso tudo? Juno fica ansiosa antes de contar tudo a eles; chega a implorar clemência! Não sei se isso foi a sério ou apenas uma genuflexão aos tempos em que esse medo todo realmente faria sentido. Depois de poucos segundos e alguns suspiros o pai de Juno já fazia piada com o pai do pequeno indesejado ('não imaginava que ele seria capaz...'). É isso aí: com humor a gente se ajeita.
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