Em épocas como essa, quando os feriados nos forçam a interagir socialmente não só com os usuais desconhecidos, mas também com conhecidos e familiares que, se dependesse de nós, seriam também desconhecidos, vale mais do que nunca a observação de Adam Smith, no Theory of Moral Sentiments: a identificação moral, ou social, exige um esforço de nossa sympathetic mind. Se não nos identificamos ou nem sequer compreendemos a desgraça alheia, como poderemos lamentá-la? Se você não consegue imaginar o efeito provável de uma observação, de uma piada ou de um gesto, você é socialmente burro ou sem imaginação social.
O curioso é que eu mesmo sempre fui acusado de socialmente incapacitado, acusação que, claro está, significa tão somente que eu não faço amizades no elevador. Aliás, sou levado a crer que os mais extrovertidos são os que menos têm imaginação social: as besteiras que dizem e fazem são relevadas justamente por serem extrovertidas e simpáticas. A imunidade social leva-os à preguiça mental. Trata-se de mais um caso em que a inobservância das regras nos leva à convicção de que as regras não existem.
Pois bem, que bom seria se todos tentassem imaginar a reação do interlocutor antes de dizer algo! Não há nada aqui de autocensura (se houvesse eu seria o primeiro a repudiar a idéia): opiniões razoáveis expressas civilizadamente nunca podem ser ofensivas (exemplo de opinião razoável expressa civilizadamente: parada gay é idiotice), a não ser que haja incompressão por parte de quem está ouvindo. Mas aí o problema já não é nosso. Vejam que o esforço imaginativo de que falo é bem menor do que parece: Isaiah Berlin parece sempre meio desesperado com a perspectiva de transportar-se à realidade de homens de culturas diferentes para melhor compreendê-los. Há razão para desespero; quantos de nós seria capaz de imaginar com exatidão a reação de um egípcio antigo ao sentarmos na tumba de seu avô? Ou a reação de um samurai se mostrássemos o dedo para sua mãe? Mas o que se exige aqui não é nada disso; muito pelo contrário, falamos dos brasileiros, uma gente que chega a ser tediosamente uniforme e previsível.
Exemplos de falta de imaginação social? Convidar alguém para um churrasquinho e pedir que o sujeito leve a carne (acreditem, isso aconteceu comigo recentemente); comentários, ainda que cautelosos, sobre episódios potencialmente desagradáveis na vida de uma pessoa, a menos, é claro, que a ocasião exija; demonstrações extremadas de autocomiseração, principalmente quando não temos como nos identificar com o motivo; etc.
Nesse último caso, não temos o que imaginar, a não ser como seria bom estar longe dali.
O curioso é que eu mesmo sempre fui acusado de socialmente incapacitado, acusação que, claro está, significa tão somente que eu não faço amizades no elevador. Aliás, sou levado a crer que os mais extrovertidos são os que menos têm imaginação social: as besteiras que dizem e fazem são relevadas justamente por serem extrovertidas e simpáticas. A imunidade social leva-os à preguiça mental. Trata-se de mais um caso em que a inobservância das regras nos leva à convicção de que as regras não existem.
Pois bem, que bom seria se todos tentassem imaginar a reação do interlocutor antes de dizer algo! Não há nada aqui de autocensura (se houvesse eu seria o primeiro a repudiar a idéia): opiniões razoáveis expressas civilizadamente nunca podem ser ofensivas (exemplo de opinião razoável expressa civilizadamente: parada gay é idiotice), a não ser que haja incompressão por parte de quem está ouvindo. Mas aí o problema já não é nosso. Vejam que o esforço imaginativo de que falo é bem menor do que parece: Isaiah Berlin parece sempre meio desesperado com a perspectiva de transportar-se à realidade de homens de culturas diferentes para melhor compreendê-los. Há razão para desespero; quantos de nós seria capaz de imaginar com exatidão a reação de um egípcio antigo ao sentarmos na tumba de seu avô? Ou a reação de um samurai se mostrássemos o dedo para sua mãe? Mas o que se exige aqui não é nada disso; muito pelo contrário, falamos dos brasileiros, uma gente que chega a ser tediosamente uniforme e previsível.
Exemplos de falta de imaginação social? Convidar alguém para um churrasquinho e pedir que o sujeito leve a carne (acreditem, isso aconteceu comigo recentemente); comentários, ainda que cautelosos, sobre episódios potencialmente desagradáveis na vida de uma pessoa, a menos, é claro, que a ocasião exija; demonstrações extremadas de autocomiseração, principalmente quando não temos como nos identificar com o motivo; etc.
Nesse último caso, não temos o que imaginar, a não ser como seria bom estar longe dali.
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