29 dezembro, 2006

Praia

Final de semana na praia. Naturalmente, não na praia acima, que a rigor não existe. Mas aproveito a oportunidade para confessar-me fascinado pelo mar, apesar de vê-lo somente em intervalos cada vez mais distantes entre si. Esse fascínio chega a mim através de figuras como Conrad, Coleridge, Melville e Poe e permanece, insisto, intacto. Como todo sujeito sem imaginação e com um mínimo de bom senso (assim espero), não me aventuro a expor uma versão propriamente minha dessa atração. Há alguns anos, frequentei um curso de literatura chamado A Sea of Words, onde se lia desde Coleridge até... não lembro o nome, mas o que importa é que é péssimo. Muito já foi dito sobre as armadilhas, para o escritor, da narrativa erótica. Um pequeno descuido e já passamos para campo do ridículo. Troquem a mulher (ou o que quer que sirva nos dias que correm) pelo mar e adentramos uma seara não menos perigosa, da qual, aliás, já foram vítimas o nosso Carpeaux (que obviamente não era nenhum mestre do estilo mas que nada obstante não era dado a escorregões), Stephen Crane e, em alguns raros momentos, o próprio Conrad. Faço o favor de partir para algo que nada tem que ver com descuidos, a saber, um trecho da Rime of the Ancient Mariner, do Coleridge, em que o Albatroz dá início a sua singela vingança (a íntegra pode ser encontrada com facilidade na web):

And the Albatross begins to be avenged.

Water, water, every where,
And all the boards did shrink;
Water, water, every where,
Nor any drop to drink.

The very deep did rot: O Christ!
That ever this should be!
Yea, slimy things did crawl with legs
Upon the slimy sea.

About, about, in reel and rout
The death-fires danced at night;
The water, like a witch's oils,
Burnt green, and blue and white.

(...)

And some in dreams assuréd were
Of the Spirit that plagued us so;
Nine fathom deep he had followed us
From the land of mist and snow.

And every tongue, through utter drought,
Was withered at the root;
We could not speak, no more than if
We had been choked with soot.

(...)

Ah! well a-day! what evil looks
Had I from old and young!
Instead of the cross, the Albatross
About my neck was hung.