Final de semana na praia. Naturalmente, não na praia acima, que a rigor não existe. Mas aproveito a oportunidade para confessar-me fascinado pelo mar, apesar de vê-lo somente em intervalos cada vez mais distantes entre si. Esse fascínio chega a mim através de figuras como Conrad, Coleridge, Melville e Poe e permanece, insisto, intacto. Como todo sujeito sem imaginação e com um mínimo de bom senso (assim espero), não me aventuro a expor uma versão propriamente minha dessa atração. Há alguns anos, frequentei um curso de literatura chamado A Sea of Words, onde se lia desde Coleridge até... não lembro o nome, mas o que importa é que é péssimo. Muito já foi dito sobre as armadilhas, para o escritor, da narrativa erótica. Um pequeno descuido e já passamos para campo do ridículo. Troquem a mulher (ou o que quer que sirva nos dias que correm) pelo mar e adentramos uma seara não menos perigosa, da qual, aliás, já foram vítimas o nosso Carpeaux (que obviamente não era nenhum mestre do estilo mas que nada obstante não era dado a escorregões), Stephen Crane e, em alguns raros momentos, o próprio Conrad. Faço o favor de partir para algo que nada tem que ver com descuidos, a saber, um trecho da Rime of the Ancient Mariner, do Coleridge, em que o Albatroz dá início a sua singela vingança (a íntegra pode ser encontrada com facilidade na web):
And the Albatross begins to be avenged.
Water, water, every where,
And all the boards did shrink;
Water, water, every where,
Nor any drop to drink.
The very deep did rot: O Christ!
That ever this should be!
Yea, slimy things did crawl with legs
Upon the slimy sea.
About, about, in reel and rout
The death-fires danced at night;
The water, like a witch's oils,
Burnt green, and blue and white.
(...)
And some in dreams assuréd were
Of the Spirit that plagued us so;
Nine fathom deep he had followed us
From the land of mist and snow.
And every tongue, through utter drought,
Was withered at the root;
We could not speak, no more than if
We had been choked with soot.
(...)
Ah! well a-day! what evil looks
Had I from old and young!
Instead of the cross, the Albatross
About my neck was hung.
And the Albatross begins to be avenged.
Water, water, every where,
And all the boards did shrink;
Water, water, every where,
Nor any drop to drink.
The very deep did rot: O Christ!
That ever this should be!
Yea, slimy things did crawl with legs
Upon the slimy sea.
About, about, in reel and rout
The death-fires danced at night;
The water, like a witch's oils,
Burnt green, and blue and white.
(...)
And some in dreams assuréd were
Of the Spirit that plagued us so;
Nine fathom deep he had followed us
From the land of mist and snow.
And every tongue, through utter drought,
Was withered at the root;
We could not speak, no more than if
We had been choked with soot.
(...)
Ah! well a-day! what evil looks
Had I from old and young!
Instead of the cross, the Albatross
About my neck was hung.
|