Partindo do princípio utilitário segundo o qual a Felicidade é o objetivo ulterior de nossa existência, coube a Mill, no ensaio Utilitarianism, reformular a idéia que formamos dessa felicidade. Sua idéia difere da tradicional (lê-se da de Jeremy Bentham) em três aspectos: (1) a felicidade adquire um aspecto mais ativo; ela advém principalmente daquilo que realizamos, nosso trabalho e nossas conquistas; (2) a felicidade é idiossincrática, isto é, admitem-se peculiaridades que não necessariamente concorrem para a felicidade de um indivíduo, mas que podem concorrer para a de um outro; (3) as circunstâncias mais relevantes para a obtenção da felicidade são de ordem pessoal, o que constitui a própria tese do On Liberty.
Quem leu o post sobre Viktor Frankl lembrará que (1) é um dos meios citados através dos quais podemos chegar a um sentido. (2) é encarado pelo leitor moderno como uma obviedade, mas não custa lembrar que mesmo reconhecendo a pluralidade do fenômeno da felicidade, Mill acreditava, assim como o fazia Aristóteles, que existe uma, digamos, hierarquia dos prazeres. Mill é axiomático ao afirmar que os prazeres de caráter intelectual são superiores em relação aos demais. Não temos aqui, como talvez quisessem os mais modernosos, liberdade total e irrestrita: It is better to be a human being dissatisfied than a pig satisfied; better to be Socrates dissatisfied than a fool satisfied. Em (3) se verifica a suspeita de que, contrariamente ao que diziam muitos de seus críticos, Mill era um pensador consistente e até bastante sistemático (suspeita que ganha força quando se lê outros de seus ensaios), chegando a níveis de ambição inobserváveis em intelectuais desconexos e intempestivos.
Mill parece tentar divisar nada menos que uma Religião Universal. Sugere que a moral cristã, sem o auxílio de aquisições seculares, não é suficiente para a formação do caráter ideal. Apesar de estar disposto a preencher essa e outras lacunas, persiste a velha dificuldade que assombra todo e qualquer utilitarista: a questão da 'medição' dos prazeres. Ainda que uma classificação bastante ampla seja às vezes possível (como a dos prazeres intelectuais versus o resto, se estivermos realmente dispostos a aceitá-la), qualquer tentativa mais específica não deve esperar muito sucesso. É forçoso reconhecer que a concessão feita em (2) dificulta ainda mais a situação; se talvez chegamos a uma descrição mais fiel da realidade, simultaneamente torna-se mais difícil sua análise: algo como o equivalente do Princípio da Incerteza nas ciências sociais.
Seria conveniente desmistificar o preconceito referente ao termo utilitarismo segundo o qual esse ramo do pensamento apregoa práticas nada menos que egoístas, aliadas ao também famigerado individualismo. Nada tenho contra preconceitos, apenas advirto que esse tem origem numa simples deturpação da termionologia. Utilitarismo não é 'ser feliz' e dane-se o resto:
Quem leu o post sobre Viktor Frankl lembrará que (1) é um dos meios citados através dos quais podemos chegar a um sentido. (2) é encarado pelo leitor moderno como uma obviedade, mas não custa lembrar que mesmo reconhecendo a pluralidade do fenômeno da felicidade, Mill acreditava, assim como o fazia Aristóteles, que existe uma, digamos, hierarquia dos prazeres. Mill é axiomático ao afirmar que os prazeres de caráter intelectual são superiores em relação aos demais. Não temos aqui, como talvez quisessem os mais modernosos, liberdade total e irrestrita: It is better to be a human being dissatisfied than a pig satisfied; better to be Socrates dissatisfied than a fool satisfied. Em (3) se verifica a suspeita de que, contrariamente ao que diziam muitos de seus críticos, Mill era um pensador consistente e até bastante sistemático (suspeita que ganha força quando se lê outros de seus ensaios), chegando a níveis de ambição inobserváveis em intelectuais desconexos e intempestivos.
Mill parece tentar divisar nada menos que uma Religião Universal. Sugere que a moral cristã, sem o auxílio de aquisições seculares, não é suficiente para a formação do caráter ideal. Apesar de estar disposto a preencher essa e outras lacunas, persiste a velha dificuldade que assombra todo e qualquer utilitarista: a questão da 'medição' dos prazeres. Ainda que uma classificação bastante ampla seja às vezes possível (como a dos prazeres intelectuais versus o resto, se estivermos realmente dispostos a aceitá-la), qualquer tentativa mais específica não deve esperar muito sucesso. É forçoso reconhecer que a concessão feita em (2) dificulta ainda mais a situação; se talvez chegamos a uma descrição mais fiel da realidade, simultaneamente torna-se mais difícil sua análise: algo como o equivalente do Princípio da Incerteza nas ciências sociais.
Seria conveniente desmistificar o preconceito referente ao termo utilitarismo segundo o qual esse ramo do pensamento apregoa práticas nada menos que egoístas, aliadas ao também famigerado individualismo. Nada tenho contra preconceitos, apenas advirto que esse tem origem numa simples deturpação da termionologia. Utilitarismo não é 'ser feliz' e dane-se o resto:
The utilitarian morality does recognize in human beings the power of sacrificing their own greatest good for the good of others. It only refuses to admit that the sacrifice is itself a good. A sacrifice which does not increase, or tend to increase, the sum total of happiness, it considers wasted.Mais uma vez as palavras soam familiares: Frankl falava do sofrimento como maneira de obter a felicidade, dado que esse sofrimento tivesse um significado. A diferença é que, sem o termo utilitarismo, a idéia nos parece mais simpática.
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