31 agosto, 2008

Sailing to Byzantium

THAT is no country for old men. The young
In one another's arms, birds in the trees
- Those dying generations - at their song,
The salmon-falls, the mackerel-crowded seas,
Fish, flesh, or fowl, commend all summer long
Whatever is begotten, born, and dies.
Caught in that sensual music all neglect
Monuments of unageing intellect.

An aged man is but a paltry thing,
A tattered coat upon a stick, unless
Soul clap its hands and sing, and louder sing
For every tatter in its mortal dress,
Nor is there singing school but studying
Monuments of its own magnificence;
And therefore I have sailed the seas and come
To the holy city of Byzantium.

O sages standing in God's holy fire
As in the gold mosaic of a wall,
Come from the holy fire, perne in a gyre*,
And be the singing-masters of my soul.
Consume my heart away; sick with desire
And fastened to a dying animal
It knows not what it is; and gather me
Into the artifice of eternity.

Once out of nature I shall never take
My bodily form from any natural thing,
But such a form as Grecian goldsmiths make
Of hammered gold and gold enamelling
To keep a drowsy Emperor awake;
Or set upon a golden bough to sing
To lords and ladies of Byzantium
Of what is past, or passing, or to come.

Minha intenção original era falar do filme dos Cohen (que a essa altura já popularizou, ou algo perto disso, o poema acima) mas, como geralmente ocorre, resolvi desviar o tema. Revendo o post em que colei poemas do Yeats (aqui), percebi que não colei esse, não sei bem por quê. Detesto ter que admitir, mas só fui reparar que ele tinha algo de especial depois de ver o filme. Um pretexto possível é que a temática se repete em vários outros poemas; outro, mais plausível, é que sou um leitor distraído de poesia. Mas vá lá.

Também é estranho eu não ter reparado nele porque o tema da velhice me interessa (nós não entendemos os mais velhos e o mais velhos, ao menos os que têm algo na cabeça, se envergonham pelos jovens). O velho-narrador, tanto no poema quanto no filme, prefere não passar julgamento sobre o mundo atual e simplesmente se declara incompatível com ele. Bom ou ruim, o certo é que our country não tolera mais a velhice, ou os velhos modos. A única passagem do poema em que o narrador ensaia uma objeção é o final da primeira estrofe: caught in that sensual music, all neglect monuments of unaging intellect. Todo o espetáculo da vida e da corruptibilidade da vida (whatever is begotten, born, and dies), apesar de muito bacaninha, pode nos levar a esquecer o que há de incorruptível, eterno, espiritual etc.

Nesse contexto o velho é coisa insignificante, mero declínio de algo que deve por força recomeçar. A menos, é claro, que um grande esforço (espiritual, já que a essa altura não se pode mais depender do corpo pra nada) seja empreendido no sentido de superar a decadência da matéria: unless soul clap its hand and sing, and louder sing. O problema é que a juventude, a mesma que tendia a negligenciar os monumentos do eterno, está fadada a falhar pois, segundo o narrador, não há escola para semelhante matéria que não o estudo das coisas mesmas que eles negligenciam: nor is there singing school but studying monuments of its own magnificence. É por isso que o velho decide ir para Bizâncio, espécie de monte Parnaso aos que têm sede do eterno. Bizâncio aparece em vários outros poemas do Yeats como símbolo de fertilidade cultural, mas nesse em particular (não lembro se é o único) há que considerar também seu aspecto sagrado: the holy city of Bizantium.

Na terceira estrofe começa a oração do narrador, que vai até o final do poema. Aqui a intenção é livrar-se de vez das vestes mortais (this dying animal) com o auxílio dos sábios da cidade. Na última estrofe o distanciamento é completo, não só do que é humano mas de tudo que é mortal: I shall never take my bodily form from any natural thing. Graças a um esclarecimento do próprio Yeats ficamos sabendo a que se refere a alusão a um imperador sonolento: "I have read somewhere that in the Emperor's palace at Byzantium was a tree made of gold and silver, and artificial birds that sang." Parece claro que o objetivo final do narrador é sair da esfera de influência do tempo, a ponto de ele mesmo poder passar a vida a falar das desventuras daqueles que não tiveram a mesma sorte: to sing... of what is past, or passing, or to come.

E o filme? O filme (ou melhor, o livro de Cormac McCarthy em que ele é baseado) serve como reconhecimento do fato de que a preocupação dos 'bons', hoje, é antes de tudo sobreviver. Queixar-se de falta de sofisticação cultural ou de falta de consideração pelos mais antigos ja é coisa bem pueril nesse contexto. Tommy Lee Jones, o 'velho' do filme, diz não saber o que pensar de tanta violência, mas já não são só os velhos que não sabem. É engraçado observar como qualquer preocupação, para se dizer moderna, transforma-se numa questão de sobrevivência. Pelo menos em termos de imaginação os primitivos somos nós.