10 junho, 2008

Fetiche Libertário

As muitas restrições impostas arbitrariamente à liberdade humana fizeram, imagino eu, com que se criasse o fetiche libertário. Ou isso ou imaginar que imposições naturais, como o nome ou o sexo com que nascemos, já seriam suficientes pra criá-lo. Excetuando nossa época, em que cirurgias de mudança de sexo são financiadas pelo Estado, o consenso parece indicar que esse tipo de rebelião é ridículo. Parando pra pensar, muito do que nos é mais essencial nunca foi oferecido como opção.

Nomear personagens é dificuldade de quase todo escritor; o que se espera é que o nome soe como se tivesse sido imposto pela Realidade, não pelo arbítrio de quem escreve. Tudo o que nos interessa num personagem interessante é o que está fixo nele. Um personagem que é só potência pra mudar não é um personagem, é um boneco sem nome. Lord Jim só me interessa até hoje porque nunca conseguiu esquecer o dia em que abandonou o S. S. Jedah. Se conseguisse não seria menos humano, mas não haveria motivo pra escrever um livro sobre ele.

Sempre me acusam de determinismo ou conformismo quando falo dessas coisas. Em verdade só me oponho ao determinismo oposto, o de achar que nada pode ficar determinado. A liberdade que se enaltece em panfletos políticos não é, infelizmente, negativa: ela é movimento puro, daí que resulte destrutiva muitas vezes. A pedra não deixa de ser livre por não se mexer; deixa de sê-lo por não poder se mexer. Hoje não somos tão livres pra obedecer (pensem nas mulheres) ou pra permanecer inertes (pensem nos jovens). Por que o movimento libertário se recusa a apadrinhar os obedientes e os inertes?

Acho que uma pedra contribui mais para a felicidade humana que o ministro Temporão. Uma pedra não faz bobagens e é até capaz de nos divertir de quando em vez. Eu vou além da pedra: critico o ministro Temporão. É muito gratificante poder sanar um pouco de minha dívida para com a humanidade com essas poucas linhas. E o que é melhor: não precisei mudar em nada.