Inventei de rever esse filme ontem porque me asseguraram que ele seria mais que simples diversão (como se isso fosse ruim). Cheguei à mórbida conclusão de que ou ele é tomado como simples diversão ou estamos danados.
Quando nos informamos sobre a impressão que o filme deixou nas pessoas, em adolescentes principalmente, percebemos que ela é quase sempre de concordância irrestrita. O próprio narrador (Edward Norton) diz que é 'dificil discordar' da lógica de Tyler Durden quando este ameaça a vida de um balconista que não seguiu seu sonho de ser veterinário. Quando a seita passa a arquitetar pequenos atentados terroristas, a sensação de 'ops, fomos longe demais' só aparece quando um membro do grupo (Bob) é baleado.
Não li o livro de Chuck Palahniuk que deu origem ao filme e por isso não sei até que ponto vai a 'redenção' final do narrador. No filme, ela é meramente instintiva: destruir prédios corporativos, depredar patrimônio público e vandalizar a cidade é 'demais', devemos parar. O filme consegue o prodígio de fazer com que a audiência simultaneamente concorde com Tyler Durden até o final e simpatize com o 'basta' do narrador. Quem está errado, afinal?
Mais ou menos como quem lê Crime e Castigo e se esquece da segunda parte (o castigo), quem vê esse filme tende a só lembrar a revolta de Durden. Se nos pedissem uma citação que define o filme:
A guerra deles (membros do Fight Club) não é bem espiritual, ou melhor, eles apenas gostariam que ela fosse. O culto à resistência à dor tenta, creio eu, emprestar algum elemento de ascetismo oriental, mas a pancadaria funciona muito mais como válvula de escape do que como princípio disciplinador. Isso fica claro quando lembramos que o narrador passou a dormir como um bebê depois que criou o clube.
A impressão final é a de que todo o desenrolar do filme é consequência de uma maciça crise de ennui do narrador. A negação do material (a princípio a crítica ao materialismo cego é simpática aos olhos de qualquer pessoa normal) não os leva à afirmação do espiritual, mas à negação de tudo. Como pode alguém ser avesso ao materialismo ao mesmo tempo em que confessa que o mundo se resume à matéria? É a teologia do nada, vulgo niilismo. O pior é que esse tipo de coisa ainda nos impressiona.
Quando nos informamos sobre a impressão que o filme deixou nas pessoas, em adolescentes principalmente, percebemos que ela é quase sempre de concordância irrestrita. O próprio narrador (Edward Norton) diz que é 'dificil discordar' da lógica de Tyler Durden quando este ameaça a vida de um balconista que não seguiu seu sonho de ser veterinário. Quando a seita passa a arquitetar pequenos atentados terroristas, a sensação de 'ops, fomos longe demais' só aparece quando um membro do grupo (Bob) é baleado.
Não li o livro de Chuck Palahniuk que deu origem ao filme e por isso não sei até que ponto vai a 'redenção' final do narrador. No filme, ela é meramente instintiva: destruir prédios corporativos, depredar patrimônio público e vandalizar a cidade é 'demais', devemos parar. O filme consegue o prodígio de fazer com que a audiência simultaneamente concorde com Tyler Durden até o final e simpatize com o 'basta' do narrador. Quem está errado, afinal?
Mais ou menos como quem lê Crime e Castigo e se esquece da segunda parte (o castigo), quem vê esse filme tende a só lembrar a revolta de Durden. Se nos pedissem uma citação que define o filme:
Man, I see in Fight Club the strongest and smartest men who've ever lived. I see all this potential, and I see it squandered. God damn it, an entire generation pumping gas, waiting tables; slaves with white collars. Advertising has us chasing cars and clothes, working jobs we hate so we can buy shit we don't need. We're the middle children of history, man. No purpose or place. We have no Great War. No Great Depression. Our Great War's a spiritual war…our Great Depression is our lives. We've all been raised on television to believe that one day we'd all be millionaires, and movie gods, and rock stars. But we won't. And we're slowly learning that fact. And we're very, very pissed off.Não digo que essa memória fragmentária não faz justiça ao filme: a revolta de Durden é realmente a parte mais atraente do filme (assim como o crime de Raskolnikov é a parte mais atraente do livro), ou, como eu dizia no início, boa diversão. A partir do momento em que se quer tratá-la como algo mais, surge uma série de perguntas meio enfadonhas e totalmente óbvias, do tipo: 'por que os membros do Fight Club são the smartest men who ever lived?' 'O que impede homens tão inteligentes de deixarem de ser frentistas ou garçons?' 'Qual seria uma ocupação digna no entender de alguém cujo maior feito é coordenar uma seita terrorista?'
A guerra deles (membros do Fight Club) não é bem espiritual, ou melhor, eles apenas gostariam que ela fosse. O culto à resistência à dor tenta, creio eu, emprestar algum elemento de ascetismo oriental, mas a pancadaria funciona muito mais como válvula de escape do que como princípio disciplinador. Isso fica claro quando lembramos que o narrador passou a dormir como um bebê depois que criou o clube.
A impressão final é a de que todo o desenrolar do filme é consequência de uma maciça crise de ennui do narrador. A negação do material (a princípio a crítica ao materialismo cego é simpática aos olhos de qualquer pessoa normal) não os leva à afirmação do espiritual, mas à negação de tudo. Como pode alguém ser avesso ao materialismo ao mesmo tempo em que confessa que o mundo se resume à matéria? É a teologia do nada, vulgo niilismo. O pior é que esse tipo de coisa ainda nos impressiona.