Seriousness is the last refuge of the unimaginative.Ainda que não concordemos com o desabafo de Wilde, convém notar que o que se entende por seriedade, hoje, é mais uma restrição que um estado de espírito. Já estamos cansados de ouvir: 'esta é situação muito séria, não devemos fazer isso ou aquilo'. Que houve com a high seriousness (ou extreme seriousness, não lembro exatamente o termo) de Matthew Arnold, que sempre me pareceu ser um compromisso interno, um esforço dialético interiorizado, e não uma penca que normas a ser seguida?
- Oscar Wilde
Ora, se bem conhecemos Wilde, unimaginative é empregado como antônimo de charming. Nesse caso, não haveria como discordar: nada mais enfadonho que a seriedade renitente e balofa de quem a enverga não por opção, mas por falta de criatividade. Resta saber se essa amputação se limita à esfera social (o que seria tolerável) ou se compromete as próprias faculdades intelectuais do indivíduo.
Trofimov, personagem da peça O pomar de cerejas (The cherry orchard) do Tchekhov, não tem a menor dúvida a esse respeito:
The huge majority of the intelligentsia I know seek nothing, do nothing and aren't yet capable of hard work. They call themselves intelligentsia, but (...) they are poor students, they read nothing seriously, they don't do a thing, they just talk about science, they understand little about art. They're all serious, they all have stern expressions, they all only talk about what is significant, they talk philosophy (...) I fear and dislike very serious expressions, I'm frightened of serious conversations. Better to be silent!Está respondida então a nossa pergunta: não é a seriedade que mutila; são os mutilados (e não somente os unimaginative de Wilde) que se refugiam na seriedade. Penso logo nos departamentos de humanidades Brasil afora: terão muita matéria para riso se apenas conseguirem rir de si mesmos.
|