12 maio, 2009

Somos todos newtonianos

Se você é um daqueles que odiava física na época do ensino médio, e que deu graças aos deuses por nunca mais ter que ver pêndulos, bloquinhos suspensos com roldanas ou deslizando por cunhas depois do vestibular, digo apenas que você é tão newtoniano quanto qualquer outra pessoa viva. Termos como 'força', 'potência', 'movimento' etc. são entendidos por todos exatamente como Newton os entendia, e exatamente em oposição ao entendimento que havia antes dele.

Um exercício simples pra provar isso é tentar imaginar, da maneira mais simples possível, uma 'força'. Muitos devem imaginar uma setinha entrando ou saindo de um bloco; outros tantos devem imaginar uma pessoa ou objeto sendo empurrado. Os mais criativos podem visualizar um campo de forças, uma espécie de luminosidade que circunda um, por exemplo, super-herói, e que tem o efeito de empurrar ou atrair objetos à distância. Mas isso nada mais é que o efeito à distância, uma idéia newtoniana por excelência.

Quando falamos em 'movimento', poucos devem ser os que não pensam logo em deslocamento físico. Quando falamos em 'potência', poucos devem ser os que não pensam logo na capacidade de realizar trabalho (trabalho físico -- transformação de energia), ou mais especificamente num motor, num velocímetro ou coisas do tipo. Aristóteles não era newtoniano ao falar em primeiro 'motor' ou na capacidade de 'mover' os homens; nós que somos newtonianos ao interpretá-lo dessa maneira.

A teoria ondulatória da luz sofreu certa resistência porque os newtonianos da época acreditavam que a luz era composta por partículas que se chocavam como bolas de bilhar. A refração seria, então, uma simples mudança de velocidade dessas partículas. Só a hipótese ondulatória explica, porém, fenômenos como a difração da luz (v. figura abaixo). O que fazer para convencer-nos, os newtonianos? Pensar nas ondas do mar, que uma vez quebradas produzem 'força' e 'movimento'.