Somos particularmente burros durante a adolescência porque não chegamos a saber muito sobre coisa alguma, mas já deixamos de não saber nada. Esse pouco de conhecimento é a perdição de muita gente; alguns permanecem adolescentes até morrer. É natural ocorrer de esse pouco de conhecimento incluir o fato de que é possível, com mais ou menos habilidade, mentir, enganar, lubibriar. Trata-se de mecanismo de defesa tão poderoso quanto perigoso: se sabemos pouco sobre algo e não queremos ser enganados, basta duvidar. Nasce assim o ceticismo juvenil, que duvida de tudo menos do ceticismo em si.
Não se costuma tentar justificar filosoficamente o ceticismo; aceitam-no de bom grado porque é cômodo e porque nos livra do estigma de 'crédulo' ou 'ingênuo' (nada mais constrangedor!). O exemplo disso na política brasileira é evidente: 'todo político é ladrão' porque é difícil verificar quem não é ladrão em meio a tantos ladrões. Essa preguiça mental é adulada por gente até inteligente como o Diogo Mainardi, ainda que ele o faça por motivos humorísticos. Só se pode levar a sério um cético que duvida do próprio ceticismo, já que não existe motivo concebível (além da comodidade, claro) para tirá-lo da jogada.
É durante a adolescência que várias verdades carregadas candidamente desde a infância são questionadas pela primeira vez. Isso não seria ruim se não fôssemos tão preguiçosos e não optássemos pela saída mais fácil: duvidar. Não chega a impressionar que quem é ateu decide ser ateu por essa época, mas quem dirá que 16 é a idade ideal pra esse tipo de decisão? 25 também não é, mas aos 25 não se tem a metade da convicção de alguém de 16.
Poderia haver combinação mais burra que preguiça e convicção? Quem levaria a sério alguém que duvida veementemente da natureza ondulatória da luz sem nunca ter estudado eletromagnetismo? Esse princípio de autoridade, tão óbvio quanto saudável, inexiste fora da área de exatas sabe-se lá por quê. Tanto que quem é de exatas (e isso inclui desde a faculdade de engenharia até a Royal Society) se sente perfeitamente capacitado pra debater o sexo dos anjos. Acho que quando Tomás de Aquino disse que há dois caminhos para a verdade, o da razão e o da fé, ele quis dizer que a ignorância pode, sim, ser uma benção (e não num sentido pejorativo): certamente a intuição metafísica de qualquer empregada doméstica é melhor que a do Edward Wilson, ainda que elas não saibam o que é um cromossomo ou intuição metafísica.
Fico imaginando como seria um tempo em que a ciência não fosse a única esperança de credibilidade intelectual. Joãozinho interpelaria uma roda de amigos com a resolução de uma equação diferencial parcial pelo método da separação das variáveis e seria zombado porque, ora vejam, aquilo estava em completo desacordo com as lições dos sábios escolásticos. Ainda que reconhecendo o absurdo, eu poderia chamar o Joãozinho de lado e, dando-lhe um tapinha nas costas, perguntar: 'viu como é bom?'
Não se costuma tentar justificar filosoficamente o ceticismo; aceitam-no de bom grado porque é cômodo e porque nos livra do estigma de 'crédulo' ou 'ingênuo' (nada mais constrangedor!). O exemplo disso na política brasileira é evidente: 'todo político é ladrão' porque é difícil verificar quem não é ladrão em meio a tantos ladrões. Essa preguiça mental é adulada por gente até inteligente como o Diogo Mainardi, ainda que ele o faça por motivos humorísticos. Só se pode levar a sério um cético que duvida do próprio ceticismo, já que não existe motivo concebível (além da comodidade, claro) para tirá-lo da jogada.
É durante a adolescência que várias verdades carregadas candidamente desde a infância são questionadas pela primeira vez. Isso não seria ruim se não fôssemos tão preguiçosos e não optássemos pela saída mais fácil: duvidar. Não chega a impressionar que quem é ateu decide ser ateu por essa época, mas quem dirá que 16 é a idade ideal pra esse tipo de decisão? 25 também não é, mas aos 25 não se tem a metade da convicção de alguém de 16.
Poderia haver combinação mais burra que preguiça e convicção? Quem levaria a sério alguém que duvida veementemente da natureza ondulatória da luz sem nunca ter estudado eletromagnetismo? Esse princípio de autoridade, tão óbvio quanto saudável, inexiste fora da área de exatas sabe-se lá por quê. Tanto que quem é de exatas (e isso inclui desde a faculdade de engenharia até a Royal Society) se sente perfeitamente capacitado pra debater o sexo dos anjos. Acho que quando Tomás de Aquino disse que há dois caminhos para a verdade, o da razão e o da fé, ele quis dizer que a ignorância pode, sim, ser uma benção (e não num sentido pejorativo): certamente a intuição metafísica de qualquer empregada doméstica é melhor que a do Edward Wilson, ainda que elas não saibam o que é um cromossomo ou intuição metafísica.
Fico imaginando como seria um tempo em que a ciência não fosse a única esperança de credibilidade intelectual. Joãozinho interpelaria uma roda de amigos com a resolução de uma equação diferencial parcial pelo método da separação das variáveis e seria zombado porque, ora vejam, aquilo estava em completo desacordo com as lições dos sábios escolásticos. Ainda que reconhecendo o absurdo, eu poderia chamar o Joãozinho de lado e, dando-lhe um tapinha nas costas, perguntar: 'viu como é bom?'
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